Paraskevidecatriafobia

José Horta Manzano

Em dezembro de 1993, o British Medical Journal, órgão respeitado nos meios científicos, publicou um estudo feito por um colegiado de autores que levava título sugestivo: Is Friday the 13th bad for your health? – Sexta-feira 13 é dia ruim para a saúde?”.

Para evitar ao distinto leitor o trabalho de ler o artigo inteiro, dou logo a conclusão: parece que sim. No levantamento feito pelos autores, parece que acidentes rodoviários, por exemplo, ocorrem com maior frequência numa sexta-feira 13 do que em outras sextas-feiras. É verdade que não é tão complicado fazer com que estatísticas confirmem a tese que o autor queria demonstrar. Seja como for, mais vale ficar com um pé atrás.

E hoje é justamente sexta-feira 13. E 13 de agosto, ainda por cima! Para nós, brasileiros, o fato de o 13 de agosto cair numa sexta-feira reforça a maldição. Logo mais adiante, explico.

O palavrão que dá título a este post foi composto a partir de raízes gregas. Decompõe-se assim: Παρασκευή (Paraskeví=sexta-feira) + δεκατρία (decatría=treze) + φοβία (fobía=fobia). Juntando as pontas, fica: Pavor de sexta-feira treze. Muita gente fina faz parte do clube dos que detestam esse dia, acredite. Há gente que evita até pôr os pés fora de casa.

A origem da superstição é religiosa. A tradição cristã ensina que Jesus foi crucificado numa sexta-feira, no dia seguinte à última ceia, refeição compartilhada por 13 comensais. O número 13 foi, portanto, um mau presságio que anunciou um desenlace trágico.

Já a implicância com o mês de agosto não vem da tradição cristã. É coisa nossa. Alguns acontecimentos dramáticos atingiram a política brasileira em agosto.

Getúlio Vargas suicidou-se num 24 de agosto, enquanto Jânio Quadros renunciou num 25 de agosto. O ex-presidente Juscelino Kubitschek e o canditato à presidência Eduardo Campos morreram em agosto, ambos em acidente trágico. Dilma Rousseff foi destituída da Presidência num 31 de agosto. A maldição de agosto também atingiu o general presidente Costa e Silva, que teve um ataque cerebral e foi afastado do cargo em 31 de agosto de 1969. Até Carmen Miranda, que não estava na política mas era a estrela maior da música brasileira, faleceu num 5 de agosto.

Antes de toda essa mortandade, não sei por que razão, agosto já era conhecido como “mês do desgosto”. Minha avó dizia ainda que “agosto é mês de cachorro louco”. Não sei se haveria base científica, mas assim falavam os antigos.

Portanto, quando o 13 de agosto cai numa sexta-feira, todo cuidado é pouco! Ainda mais com covid na praça e, pior que tudo, com Bolsonaro de timoneiro. Valei-nos, São Benedito!

Triscaidecafobia

José Horta Manzano

Triscaidecafobia é o nome culto do pavor que muita gente tem do número 13, ao qual se atribui o poder de trazer desgraça. O Volp registra a grafia triscaidecofobia, que me parece anômala. O Houaiss ignora, mas o Priberam corrige. A raiz grega deka (=dez) deu decaedro, decassílabo, decâmetro, decacampeão, decalitro. Triscaidecafobia respeita o original.

Desde a alta Antiguidade, o número 12 carrega simbologia forte. Representa o fim de um ciclo. Doze signos tem o horóscopo, doze meses tem o ano, doze horas tem o dia, doze foram os trabalhos de Hércules, doze tribos tinha o Israel bíblico.

Com exceção do salário extra que se recebe no fim do ano, o décimo terceiro faz papel de intruso. É sempre aquele penetra que interrompe o ciclo e quebra a harmonia formada pelos doze primeiros. Opõe-se ao divino, à perfeição primeira. No tarô de Marselha, por sinal, a décima terceira carta significa a morte.

Décima terceira carta do tarô de Marselha

O cristianismo medieval reforçou as antigas superstições. A Última Ceia, tal como foi representada pelos artistas da Idade Média, mostrava Jesus ladeado pelos doze apóstolos, um dos quais havia de traí-lo. Como o Mestre foi crucificado numa sexta-feira, a coincidência dos dois é por muitos considerada nefasta. Numa sexta-feira 13, todo cuidado é pouco. Há gente que nem sai de casa nesse dia.

Tendo em mente o drama que se seguiu à Última Ceia, em muitos países do mundo ocidental nunca se juntam 13 pessoas ao redor de uma mesa. Nem para jantar nem para conversar. Se a conta der treze, há duas soluções: dispensa-se alguém ou convida-se um extra pra desmanchar o quebranto. Qualquer figurante serve.

Inúmeros edifícios dos EUA não têm décimo terceiro andar. Evita-se também a 13a rua, a 13a avenida. Hospitais não dão número que termine em 13 a nenhum quarto. Cinemas compostos de múltiplas salas fogem de dar o número 13 a uma delas. Há quem prefira dar o nome de 12bis, há quem passe direto do 12° ao 14°.

Gabinete presidencial
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O gabinete da presidência da República do Brasil, salão frio e despojado mas espaçoso e iluminado, tem uma vistosa mesa de reuniões. A mesa é redonda, como convém para diluir embaraços protocolares. O detalhe picante é que ela conta com exatamente 13 cadeiras em roda. O distinto leitor pode conferir pela foto aqui acima.

Talvez isso explique certas decisões desastradas que têm sido tomadas ao redor do imponente e lustroso móvel. No creo en brujas, pero que las hay, las hay ‒ dizia o outro. Não sou especialmente supersticioso. Assim mesmo, fosse eu doutor Temer, mandava imediatamente tirar ou acrescentar uma cadeira. «O seguro morreu de velho», dizia minha avó.