Acentuação gráfica

Dad Squarisi (*)

Por que todas as proparoxítonas são acentuadas?

Quando o português usava fraldas, era pra lá de difícil acertar a sílaba tônica dos vocábulos. Rubrica ou rúbrica? Nobel ou Nóbel? Que rolo! As palavras, então, se reuniram em conselho. Discute daqui, briga dali, firmaram este acordo:

Artigo 1°
As terminadas em a, e e o, seguidas ou não de s, são paroxítonas.

Artigo 2°
As terminadas em i e u, seguidas ou não de qualquer consoante, são oxítonas.

Artigo 3°
Quem se opuser ao acordo será punido com acento gráfico.

Conclusão: só se acentuam as palavras rebeldes.

As primeiras a reclamar foram as proparoxítonas. Se aderissem, desapareceriam da língua. É que não sobrou nenhuma vogal para elas. Por isso, todas são acentuadas: rítmico, álibi, satélite.

(*) Dad Squarisi, formada pela UnB, é escritora. Tem especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura. Edita o Blog da Dad.

Proparoxítona

José Horta Manzano

Acabo de ler que um certo senhor Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil, foi preso hoje na mais recente dobra da Operação Lava a Jato. O homem, que também já foi presidente da Petrobrás, é acusado de ter cometido malfeitos. Há de ter sido contaminado pelo vírus que infesta a maltratada estatal, bactéria que já atingiu outros altos dirigentes.

Locutores de rádio têm chamado o figurão de Bendine, com acento no di. Estão enganados. No original italiano, a palavra é proparoxítona, com acento no Ben. Fica Bêndine.

Cada língua tem seu espírito. O italiano privilegia proparoxítonas. Nessa língua, palavras com o acento na terceira sílaba a contar do fim são muito mais numerosas que em português. Certas formas verbais chegam a ser biesdrúxulas, ou seja, acentuadas na quarta sílaba de trás pra diante. Chiaccherano (tagarelam), scivolano (escorregam), regulano (regulam) são exemplos.

Em nossa língua, ocorrências assim são raríssimas. De toda maneira, nossa engessada norma culta simplesmente veta a formação de palavras biesdrúxulas.

Se, num arroubo poético, o distinto leitor decidir pluralizar a palavra Júpiter, não poderá dizer piteres, ainda que lhe pareça natural. Será obrigado a deslocar o acento tônico desembocando num bizarro Juteres, com acento no pi, formação que, a meu ver, descaracteriza o vocábulo.

Que fazer? É a velha história: quem pode manda; quem tem juízo obedece.