José Horta Manzano
O Correio Braziliense nos informa que Antonio Patriota, o ministro das Relações Exteriores, não exclui interrogar Edward Snowden fora do Brasil. É surpreendente que nosso chanceler, diplomata de carreira, demonstre ingenuidade tão grande.
Como não é imaginável que nosso ministro, na posição em que está, fale da boca pra fora, sem avaliar o peso de cada uma de suas palavras, algo tem de estar por trás dessa estranha intenção de «ouvir, fora do Brasil, o consultor Snowden».
Imagino alguns cenários:
1) O ministro realmente acredita que o delator fugitivo detenha um caminhão de informações detalhadas sobre o grau de intercepção exercido pela espionagem americana sobre cada país em particular. Parece-me difícil que um tal volume de dados tenha sido deixado à disposição do jovem. Acho que o chanceler está dando demasiada importância a um pequeno ex-funcionário de uma firma terceirizada.
2) O ministro gostaria de mostrar ao «império» que nosso País tem, sim, condições de investigar em profundidade sobre a natureza de intromissões que possam ter sido perpetradas em nossos segredos de estado. Em suma: conosco, ninguém podosco. Se a «jus esperneandi» é direito que assiste a cada um de nós, porque negar ao ministro que recorra a ela?
3) O ministro está sendo teleguiado. É a hipótese mais inquietante e, infelizmente, a mais provável. Tudo não passa de jogada de marketing para demonstrar que o governo não se acovardou diante de um ataque a nossa soberania. Visa a acalmar bolsões ultranacionalistas que sempre resistem aqui ou ali. “Da ôtra veiz, cê vai vê aqui cum nóis!”
Continuo achando que essa história está recebendo mais atenção do que merece. Com ou sem Snowden, os serviços secretos de todos os países sempre espionaram e hão de continuar espionando. É exatamente para isso que existem.
