Gente que virou coisa – 3

José Horta Manzano

Você sabia?

Capítulo 3

Há gente que virou coisa. A história registra o caso de alguns personagens que, em geral involuntariamente, cederam o próprio nome a alguma coisa. São nomes próprios que acabaram se tornando palavras de todos os dias. Não são muitos. Aqui está um deles.

Jacuzzi
Conta a lenda que Cleópatra, rainha do Egito, tomava banho com leite de jumenta. Outros juram que o leite era de cabra. Pouco importa, não vamos nos perder nessas minúcias. O que fica claro é que, já na Antiguidade, acreditava-se que o banho tinha qualidades terapêuticas e que garantia conforto, beleza e longa vida.

Que fosse de leite ou de água mesmo, reparem que Cleópatra, que era rainha, foi a única que ficou lembrada por causa do banho. Nenhum de seus súditos aparece nessa história, sinal de que o banho de imersão não estava ao alcance de qualquer um.

Por muitos séculos, banho foi exclusividade de reis e de nobres. O povão tomava banho de gato, com bacia e paninho pra esfregar. Entre nós, a generalização da água encanada é relativamente recente. Até o fim do século 19, mesmo nas cidades maiores, poucos eram os que dispunham desse conforto.

Nos início dos anos 1900, a família Jacuzzi deixa a Itália e emigra para os EUA. Na bagagem, vão conhecimentos de hidráulica, que acabarão sendo extremamente úteis mais adiante. Durante as primeiras décadas, os Jacuzzi se dedicam a desenvolver bombas d’água para a agricultura. A grande transformação do negócio tem início nos anos 1950.

Para tratar um membro da família que sofria de reumatismo, os irmãos Jacuzzi criam uma bomba de hidroterapia para ser instalada dentro da própria banheira doméstica. O resultado foi tão espetacular que todos se animaram para aperfeiçoar a ideia. Em 1968, um membro da terceira geração do clã integra um sistema de jatos múltiplos a uma banheira e patenteia a invenção: nasce assim a primeira banheira doméstica de hidromassagem.

Daí para a frente, o crescimento foi contínuo. Os sistemas Jacuzzi são hoje comercializados em mais de 60 países. No mundo todo, o nome jacuzzi tornou-se a maneira mais simples de chamar a banheira de hidromassagem. É mais um nome de gente que virou nome de coisa.

Observação
Jacuzzi é sobrenome de origem italiana. Na língua original, a grafia mais utilizada é com i inicial (iacuzzi). Na Itália, pronuncia-se iacútsi (o zz funciona como o zz de pizza). Jacuzzi é forma carinhosa e familiar (embora arcaica) de tratar alguém chamado Iacopo ou Iacobo (Jacó).

Na Idade Média, Iacopo e Iacobo eram prenomes muito apreciados. Por essa razão, são numerosos os sobrenomes que derivam deles: Iacovini, Iacumin, Iacopucci, Iacopino, Iacolucci, Iacubino, Copelli, Cobbe e dezenas de outras. Lá pelos anos 1200-1300, quando nomes de família começaram a ser atribuídos, o patriarca da família dos criadores da banheira devia ser conhecido pela alcunha de Iacuzzi.

(continua)

Vamos ver como evolui

José Horta Manzano

Desta vez, não deu

Não se sabe bem quem terá tido a ideia. O marketing foi deixado aos cuidados de um músico baiano que costuma se apresentar com a cabeça encimada por uma touca que lembra a de um mestre-cuca. Um pouco menos elegante, é verdade.Touca mestre-cuca

Inventaram um dispositivo meio esquisito, parecido com brinquedo de criança, feito de plástico, recheado de bolinhas, com alças laterais onde se encaixam os dedos. Para rimar com ecologia, anunciaram que seria feito a partir de cana-de-açúcar. Para rimar com nacionalismo, foi tingido de verde.

Na hora de escolher o nome, fizeram um esforço especial para escapar do ridículo. Quiseram compensar a escolha infeliz do apelido dado ao simpático tatuzinho que simboliza a Copa (mas não só…), o pobre Fuleco. Chamaram o novo brinquedinho de caxirola. Não ocorreu a ninguém que os estrangeiros pronunciarão caksirôla. Faltou aconselhamento.

Para reforçar o marketing, distribuíram a novidade ― de graça! ― num recente jogo de futebol. Cinquenta mil exemplares. Que desastre! Torcedores descontentes com o desempenho de sua equipe não pensaram duas vezes. Tomados pela decepção e pela raiva, lançaram sobre o gramado o que traziam na mão. Era justamente nossa caksirôla em fase de teste. Centenas delas terminaram no gramado, perturbando o jogo. A história não diz se o dispositivo foi aprovado como instrumento. Contudo, o teste detectou que é excelente projétil.

Resultado: autoridades baianas baniram o aparelhinho das partidas que vierem a ser disputadas em Salvador. É de imaginar que outros Estados sigam o exemplo, a não ser que… bem, sabemos todos que os argumentos da Fifa costumam ser convincentes.

Vamos ver como evolui.Interligne 4f

Brincando com a saúde… dos outros

Uma mafia de falsificadores de leite foi flagrada no Rio Grande do Sul estes dias. Por ganância, batizavam o alimento com substâncias comprovadamente cancerígenas. O detalhe sórdido é que um dos criminosos mandava separar uma parte do leite bom para consumo de sua família. A adulteração vinha em seguida. Mateus, primeiro os teus!Vache 2

Em 2008, escândalo semelhante estourou na China. Uma gangue mafiosa explorava o mesmo filão. Acrescentavam melamina ao leite. Apanhados, foram presos e julgados. O caso rendeu duas penas de morte e mais uma de prisão perpétua. As penas capitais já foram executadas em 2009. A firma de lacticínios ― a maior da China ― foi à falência.

Voltemos ao Rio Grande. Dos 8 presos, um já foi solto. Seis ― bem orientados por seus defensores ― declararam que só se pronunciarão em juízo. O oitavo falou. Disse que não sabia de nada.

Que pena merecem os que vendem gato por lebre e expõem crianças, velhos e doentes ao câncer?

Vamos ver como evoluiInterligne 4i