Pé-rapado

Ladrão 4José Horta Manzano

Hoje cedinho, deu no rádio. Dois indivíduos foram detidos pela polícia num arrabalde da cidade de São Paulo. Carregando, com esforço, quatro sacolas plásticas, levantaram suspeita. Inspecionadas, as sacolas revelaram estar repletas de moedas de 50 centavos falsificadas.

Os presos admitiram estar implicados na fraude, mas acusaram uma fabriqueta de fundo de quintal ‒ situada em outro subúrbio ‒ de ser o verdadeiro fabricante da mercadoria. A eles, cabia apenas dar acabamento às peças. O trabalho era, tudo indica, feito com esmero. O costume era derramar as moedas falsas no mercado ao preço de 25 centavos cada uma.

No clima de rapina bilionária a que nos acostumaram estes últimos temos, achei que a notícia era digna de nota. É até alvissareira. Mostra que nem toda fraude é necessariamente milionária. Sobrevivem relíquias do que se costumava chamar malandro pé de chinelo.

Interligne 18c

Nota gramatical
A Academia Brasileira de Letras, guardiã da ortografia, ensina que pé-rapado leva hífen, enquanto pé de chinelo dispensa o tracinho. Por quê? Há mistérios ainda mais insondáveis que as razões que levam um cidadão a falsificar moedas de 50 centavos.