Repórteres do Estadão tiveram a pachorra de esmiuçar um relatório do Tribunal de Contas da União focado na venda de armas e munições a particulares durante os quatro anos bolsonáricos (2019 – 2022). O que se descobriu ali é de assustar até bicho-preguiça.
* 94 pessoas já falecidas compraram cerca de 17 mil munições para arma de fogo
* Quase 12 mil indivíduos falecidos entre 2019 e 2022 possuíam mais de 21 mil armas registradas em seus nomes
* 2.690 foragidos da polícia possuem armais legais
* 5.235 cidadãos em cumprimento de pena conseguiram obter, renovar ou manter seus certificados de registro de arma de fogo (CRs)
* Indivíduos condenados por crimes graves, com mandado de prisão em aberto, conseguiram obter carteirinha de CACs e são suspeitos de estarem sendo usados pelo crime organizado como “laranjas”.
É de assustar ou não é?
Numa primeira análise, se poderiam pôr essas aberrações na conta de erros cometidos por zelosos funcionários ao cumprir as determinações de Jair Bolsonaro com relação ao afrouxamento de regras de compra e venda de armamento. Um lamentável efeito colateral do programa de rearmamento, digamos.
Uma reflexão mais profunda, porém, faz virem à tona eflúvios pestilentos do passado do capitão, homem que emergiu de um caldo de violentos milicianos e de desonestos militares de baixa patente.
De alguém habituado a tratar com indivíduos que fazem da violência seu modus operandi de todos os dias, é lícito imaginar que pretendesse contar com o precioso apoio armado dessa malta quando chegasse o momento do almejado golpe de Estado.
Nessa linha de pensamento, as aberrações reveladas pelo relatório do TCU deixam de ser “efeito colateral” para tornar-se “efeito desejado” do programa de disseminação de armas.
Quanto mais braços para erguer o salvador da pátria, melhor seria. Além dos habituais sectários verde-amarelos, seriam também bem-vindos: milicianos, foragidos da polícia, cidadãos em cumprimento de pena, indivíduos com mandado de prisão em aberto. Todos armados, bem entendido. Até mortos podiam comparecer, desde que entrassem para a seita.
Foi por um triz. Para nosso alívio, a canoa furou.

Não querendo defender o senhor Bozo, vale salientar que os fatos apurados pelos jornalistas do Estadão revelam, se nos ativermos apenas a eles, a corrupção de nossa amada gente brasileira. Bozo criou o aparato legal para a compra e venda de armas, mas o ato de agir criminosamente vem de cidadãos comuns. Bozo e seus rebentos são beligerantes de carteirinha. Não sei qual dos presidentes da República foi o pior.
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Tem toda razão. A tendência a aproveitar toda ocasião pra levar vantagem (honestamente ou não) é difusa no Brasil. É por isso que, ao aprovarem leis que possam ser desvirtuadas, como essa das armas, os parlamentares deviam ser precavidos e instalar controles ao longo da linha.
É mais fácil falar que fazer.
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