O Grande Terremoto de Lisboa

José Horta Manzano

O Grande Terremoto de Lisboa está fazendo aniversário: aconteceu dia 1° de novembro de 1755, faz 268 anos. Foi exatamente no dia de Todos os Santos. Está entre os mais mortíferos, destruidores e assustadores que o planeta já conheceu.

Não há informações exatas, que naquele tempo o mundo ainda não tinha os meios que temos hoje de medir e esmiuçar esse tipo de fenômeno. Assim mesmo, estimativas têm sido feitas, que nos dão uma ideia bem próxima da realidade.

Num sismo, a terra treme durante um período curto – de 5 a 30 segundos – que já parecem uma eternidade para quem está sendo chacoalhado. No Grande Terremoto de Lisboa de 1755, o chão teria sacudido por um longo tempo (cinco a dez minutos), duração quase inacreditável. Não sei como esse tempo teria sido medido, numa época em que ninguém portava relógio, mas a estimativa está consignada em alguns documentos.

Estudos recentes indicam que o epicentro (ponto da superfície da Terra situado exatamente acima do ponto de atrito) estava situado ao largo de Lisboa, em pleno Oceano Atlântico. A magnitude do tremor teria sido entre 7,5 e 9,0 na escala Richter, uma tremenda sacudida.

Quando o chão se pôs a tremer, edifícios começaram a rachar e desmoronar. As igrejas, repletas de fiéis que celebravam o dia santo, foram as primeiras a rachar e desabar, matando milhares.

Para escapar, centenas de cidadãos se refugiaram nos descampados à beira do Rio Tejo. Não foi uma boa ideia. Minutos mais tarde, um tsunami com ondas de até 20 ou 30 metros varreu a parte baixa da cidade e engoliu gentes e bens que ali se encontravam.

Acalmado o tremor e recolhido o mar, chegou a vez dos incêndios. Fogareiros, velas e fogões espalhados por toda parte se encarregaram de atear fogo à cidade. As construções, compostas em grande parte por estruturas de madeira, aliaram-se ao material textil para oferecer o combustível necessário às chamas. O fogo se comunicou de uma casa a outra e tratou de destruir o que ainda se mantinha de pé.

Calcula-se que uma terça parte dos habitantes da cidade tenham sucumbido. Numa população de cerca de 300 mil almas, isso dá umas 100 mil vítimas mortais. Quanto às construções, 70% a 80% das edificações de Lisboa foram destruídas.

Foi o terremoto mais mortífero que jamais atingiu uma cidade europeia. Não se tem notícia de algo assim tão violento.

Calcula-se que um fenômeno dessa magnitude tende a repetir-se na mesma região em intervalos de mais ou menos 250 anos. O grande sismo anterior em Lisboa tinha acontecido em 1531, ou seja, 224 anos antes. Do grande terremoto de 1755 até hoje, já se passaram 268 anos.

Em termos estatísticos, o próximo “big one” está para ocorrer a qualquer momento. Resta esperar que as estatísticas estejam enganadas e que nada venha a ocorrer pelos próximos milênios.

Observação 1
O português luso prefere a forma “terramoto”. Em Lisboa (e no resto de Portugal), o termo “sismo” é mais usado que “terramoto”.

Observação 2
A força do tsunami não se restringiu a algumas dezenas de quilômetros em volta do epicentro. O efeito se propagou por todo o Oceano Atlântico, chegando até o litoral norte do Brasil. Há notícias esparsas, registradas em cartas de testemunhas oculares, de alguma destruição em terra brasileira. Esta colônia, então esparsamente povoada, não sofreu catástrofe comparável à de Lisboa. Assim mesmo, que haja havido algum estrago aqui mostra a força gigantesca de um fenômeno capaz de atravessar 7.000 quilômetros de oceano.

Dê-me sua opinião. Evite palavras ofensivas. A melhor maneira de mostrar desprezo é calar-se e virar a página.