O quarteto cruz-credo

José Horta Manzano

As sondagens mais recentes mostram um curioso quarteto na dianteira da corrida presidencial. São quatro personagens em busca de autor. Acolhidos por um bom dramaturgo, até que comporiam excelente dramalhão. São tipos marcantes, basta escrever o enredo.

Um deles é o cangaceiro esculpido e escarrado. Bota medo em todo o mundo, deita fogo pelas ventas. Grita, ameaça, cospe palavrão. No entanto, sei não, com todo esse esperneio, me faz pensar num certo cão que ladra mas… não morde.

O quarteto cruz-credo

O segundo é o professor. Tem ar cansado, a coluna arqueada, a cabeça que pende para a frente, como se carregasse o peso do mundo nas costas. Fala pausado, como quem explica uma lição ‒ ou como quem se esforça pra não dizer besteira. Deixa a imagem do bom sujeito que gostaria de chegar lá mas não se anima a fazer o esforço necessário, na esperança de seus méritos serem reconhecidos por inércia. Não serão.

O terceiro é a esfinge. Está sempre com cara de quem comeu, não gostou e vai chorar. Parece sempre na defensiva. Quando confrontado com um problema mais complexo, não se vexa em dizer que não tem a solução, mas que tem um amigo que vai resolver o caso. Deixa sempre uma impressão de obra inacabada, de que falta alguma coisa, como uma casa sem alicerce.

O quarto é e não é ao mesmo tempo. Apresenta-se como procurador de um sujeito oculto. Deixa claro e público que não passa de canal de expressão de um terceiro personagem. Transmite impressão de não ter vida própria, dependente que é de ordens vindas da cadeia. Um personagem surreal.

Estamos bem arranjados. Desse magma, só sai uma certeza: o próximo presidente do Brasil será paulista. De fato, todos os integrantes do quarteto viram a luz em São Paulo ‒ o que não é necessariamente motivo de orgulho para o Estado.

Francisco de Paula Rodrigues Alves
(1848-1919)
5° presidente do Brasil

Para constar
Tirando doutor Temer ‒ que é substituto e não foi eleito nominalmente ‒, o último paulista escolhido para presidir o país foi doutor Rodrigues Alves, nascido em 1848(!). Seu mandato terminou em 1906, faz 112 anos. Desde então, neca.

Dê-me sua opinião. Evite palavras ofensivas. A melhor maneira de mostrar desprezo é calar-se e virar a página.