José Horta Manzano
Desde pequenino, a gente ouve dizer que o exemplo vem de cima. É pura verdade. Assim como a criança se molda imitando os adultos, a sociedade se norteia pelo exemplo de seus líderes. É lógica da qual não dá pra escapar.
O cão rosna para afastar quem ousar se aproximar dele na hora da comida. Por natureza, o homem também é egoísta. Se se deixar dominar pelo instinto, não há de se comportar de modo diferente. Não somos espontaneamente altruístas – muito pelo contrário. «Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro.»
A educação, a família, a escola, a sociedade e – mais importante ainda – os que estão no topo da pirâmide são os que ditam o ritmo e o tempo da valsa. Com pequenas variantes individuais, os cidadãos de determinada sociedade costumam agir e reagir de modo coerente e homogêneo.
Petrificado, leio que vítimas de um desastre ferroviário nos arrabaldes do Rio de Janeiro foram assaltadas enquanto aguardavam por socorro.
Já tinha ouvido falar em roubo de carga espalhada na estrada por motivo de colisão de veículos. Já tinha ouvido falar em saqueio a casas abandonadas por motivo de terremoto ou tsunami. Já tinha até ouvido falar em assalto a cidadãos presos no tráfego e impossibilitados de se defender.
De agressão a vítimas de acidente, é a primeira vez que tenho notícia. Parece difícil que nossa sociedade descambe ainda mais baixo na escala da selvageria. Até brutamontes do Velho Oeste sabiam que não se atira em homem caído. Todo bandido sabe que tampouco se deve atirar em ambulância.
Assaltar vítimas de desgraça – infligindo-lhes, assim, duplo castigo – é covarde e ignóbil. É ato incompreensível num País cuja presidente afirmou, ainda outro dia, que seu governo é «o que mais tem combatido malfeitos».
Das duas, uma:
1) A correia de transmissão de valores, que deveria conduzir o exemplo do topo à base, está emperrada. Há que providenciar conserto urgente.
2) Ou então – o que é bem pior – a correia está, sim, funcionando. O comportamento abjecto dos que assaltaram vítimas de desastre é mero reflexo do comportamento dos inquilinos do andar de cima. Os valores do topo estão-se alastrando para a base. Meu pirão primeiro, companheiro!
O distinto leitor é livre de escolher a opção que lhe pareça mais adequada.
Tentando ficar informado do que acontece no meu país no dia a dia, só vai aumentando minha angústia e indignação por morar aqui. Cada dia descobrimos “malfeitos” (como adora dizer nossa “presidenta”, pra não dizer que seus iguais cometem crimes com frequência!). Se o povo não se unir e desbancar essa corja do poder, continuaremos ladeira abaixo. E tenho certeza de que não quero estar aqui para presenciar isso! Meus filhos já falam uma língua estrangeira e em breve terminam o nível superior. Como não compartilho do provérbio “se não podes vender teu inimigo, une-te a ele”, mostrarei a eles que existem muitos lugares no mundo onde a decência tem seu lugar de honra. Em todos os lugares!!!!
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