Você sabia?
José Horta Manzano
Quando éramos crianças, ouvíamos palavras estranhas sem entender direito o que significavam.
Dorme, Nenem
Se não a cuca vem
Papai foi na roça
Mamãe saiu também
Quem é essa tal de cuca? Até hoje não descobri.
Tem um outro que nos assustava mais ainda. Quando alguma das crianças era impertinente, como se dizia, a mãe vinha logo com a chantagem: «Menino, sossega, se não o homem do saco vem e te pega!».
As crianças não sabiam direito quem era esse homem do saco, mas a perspectiva de ser atirado dentro de um embornal e carregado no escuro para lugar desconhecido, longe de casa, costumava ser eficaz. A criança birrenta se acalmava. Pelo menos, por algum tempo.
A imagem do saco já não assusta como antes. O que atrapalha os adultos que agora somos não é mais o medo do saco ― é o preço dele. Explico.
Estes dias, todos os habitantes do município suíço em que vivo receberam um aviso da prefeitura. Estamos avisados que, a partir de 1° de janeiro de 2013, um esforço financeiro será exigido de todos, com vistas a financiar a incineração ou a reciclagem do lixo doméstico.
Por um lado, uma taxa anual de 70 francos (85 dólares) será cobrada de cada habitante maior de 18 anos. E não adianta espernear. Não escaparão nem os que, porventura, tiverem apenas uma casa de campo no município. Todos terão de contribuir, é de lei.
Por outro lado ― e essa é mais doída ― uma segunda taxa será cobrada. Essa outra mordida será já incluída no preço dos sacos plásticos que já faz anos que somos obrigados a usar para o lixo doméstico. O valor irá às alturas: o saco mais utilizado, de 35 litros, passa a custar 2 francos cada (2.50 dólares), preço salgado.
Para uma família de dois adultos que utilize, digamos, 3 sacos por semana, a conta final vai sair por uns 450 francos/ano (550 dólares). É muito.
É muito? Pode ser. Mas foi a maneira encontrada para forçar a população a fazer a triagem do lixo doméstico. Andaram estudando a composição do lixo do município e se deram conta de que, em média, apenas 28% do que é coletado nos sacos é realmente lixo alimentar (cascas de legumes, restos de comida). O resto é reciclável, principalmente embalagens de papel e papelão, plásticos, vidro.
Os antigos diziam que, quando não vai por bem, vai por mal. Para aqueles em cuja cabecinha a consciência ecológica não havia ainda despertado, a nova fórmula será radical. Vão aprender rapidinho.
Como sabemos todos, a parte mais sensível do ser humano é… o bolso.


Presente de papai Noel troiano, para (censurado) …o saco!
E você sabia que 19% do lixo total das cozinhas, supermercados, restaurantes é composto de produtos alimentares que poderiam ser consumidos?
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