Reiva

José Horta Manzano

Doutor Aécio foi «tornado réu», como convém dizer. Apesar de acusado de crime pesado, continua no circuito Elisabeth Arden da justiça brasileira. Permanece na crista da onda, por cima da carne seca e, principalmente, longe do juiz Moro. Distinção é pra quem merece.

A gente se exaspera com as estrepolias do pessoal lá de cima. É crime que não acaba mais. Deputado, senador, ministro ‒ não há fronteira para o malfazer. Mas até no campo criminal, uns atos são mais graves que outros.

O «malfeito» de doutor Aécio é particularmente grave. Esse moço teve mais de 50 milhões de votos ‒ inclusive o meu. Não é que eu o conhecesse ou o apreciasse em especial, mas era a barreira contra doutora Dilma.

Do lulopetismo, já se conhecia boa parte da podridão. O ex-governador de Minas se apresentou como paladino da justiça, como guardião da retidão. Daí a maior gravidade de seus crimes.

Os delitos materiais ‒ malas de dinheiro pra cá e pra lá ‒ têm peso definido pela lei. Já a afronta moral operada por esse senhor contra a metade do povo brasileiro que lhe deu o voto tem alcance incomensurável. É verdadeiro atentado, ainda que não catalogado na lei. A gente se sente despeitado pela ousadia do elemento que, embora vestisse trajes de cavalheiro, não passava de um cafajeste, um canalha que deu uma rasteira em 50 milhões!

Como diria Adoniran Barbosa, dá «uma baita duma reiva»(*).

(*) Num dos falares paulistanos dos anos 1950, “réiva” era raiva. Aparece no Samba do Arnesto, de Adoniran Barbosa e Alocin.