José Horta Manzano
Tem horas em que a gente percebe claramente que está envelhecendo. Passeando pelo Estadão de 6 julho, topei com um artigo surpreendente. Aprenda a fazer a decoração de um aniversário em casa – era o título. Intrigado, fui dar uma espiada. Não era um texto, mas um filminho de três minutos e meio. Mostra, passo a passo, como recortar bandeirolas e outros penduricalhos para enfeitar festa de aniversário infantil.
Decididamente, faz muito tempo que fui criança. Sei não, mas me parece que, nos tempos de antigamente, donas de casa(1) não precisavam de filminho pra aprender a recortar aquelas bandeirinhas que combinam com festa junina. De qualquer maneira, não havia internet, suplemento feminino de jornal era impresso em preto e branco. Televisão era incipiente, cheia de chuvisco e de chiado, imagem sem cores. Aliás, havia mais televizinhos(2) que televisores.
As crianças de hoje, mais evoluídas, estão sem dúvida interessadas na decoração e nos quadrinhos grudados na parede. Conosco, era diferente. O que não podia faltar em festa de criança era guaraná e olho de sogra. Brigadeiro, então, era obrigatório. E ápice da comemoração: o bolo! Sempre feito em casa, que «bolo de padaria», além de custar caro, não tinha o mesmo gosto.
Cardápios mais consistentes podiam incluir cachorro quente com molho de tomate. A gente não apreciava muito porque, ao apertar o pão umedecido, a salsicha tinha desagradável tendência a escapar pelo outro lado.
Havia quem fizesse docinho de abacaxi. Não era ruim, o chato era aquele cravo-da-índia espetado no meio. Dava um gosto esquisito.
E as balas de coco então? Vinham dispostas numa espécie de fruteira de dois ou três andares. Cada bala – que os adultos chamavam alfenim – vinha embrulhadinha em papel de seda colorido, com rabicho comprido e todo franjado. Era muito decorativo.
Imagino que, decorada com bandeirolas e quadrinhos, a sala fique muito elegante. Assim mesmo, aposto que a criançada está de olho mesmo é no brigadeiro.
(1) Peço desculpas se a expressão dona de casa tiver se tornado ofensiva. Não costumava ser. Se for o caso, desconheço o circunlóquio que a substituiu. Sorry.
(2) Televizinho era a sugestiva maneira de designar aquele que não tinha televisor em casa e que só assistia quando era convidado por um vizinho.


