José Horta Manzano
Inaugurar uma plataforma de petróleo inacabada é mais vistoso que implantar uma dúzia de escolas elementares. Se a plataforma vai funcionar amanhã, pouco importa ― ninguém vai conferir. O que fica são as imagens, os discursos, a impressão de grandiosidade. É o que conta.
Por uma dessas ironias armadas pelo acaso, a Folha de São Paulo online de 16 fev° 2014 estampou na primeira página, empilhadas, duas chamadas conflitantes. Eu disse conflitantes? Talvez seja melhor dizer que uma explica a outra.
O primeiro artigo explica, com riqueza de números e porcentagens, que o governo tem gastado mais do que pode. Como dinheiro não é extensível, o que se gasta aqui vai fatalmente faltar ali. Mas disso já estávamos todos sabendo, não carecia escrever mais uma reportagem.
A novidade é a decisão que está pintando no horizonte: para cortar despesas, o orçamento da Instrução Pública será podado. A desvalida Educação nacional verá minguar suas alocações. Investir no ensino não dá frutos nem votos imediatos. Portanto, não resolve o problema de quem quer se perpetuar no poder. Quando o interesse pessoal de cada eleito passa à frente da responsabilidade que lhe foi confiada, não sobra alternativa: o resultado tem de ser aqui e agora. Toda a verba disponível será usada em empreendimentos de resultado rápido e ofuscante.
O segundo artigo é triste consequência do primeiro. Deixa claro o fracasso do programa Ciência sem Fronteiras, aliás, uma das raras boas iniciativas do atual governo no âmbito da Educação. A aplicação do programa, infelizmente, está-se revelando problemática pela notória falta de conhecimentos de língua inglesa que caracteriza nossos estudantes. E olhe que não estamos falando de crianças de escola primária, mas de universitários.
É desanimador constatar a que ponto nossos dirigentes são vesgos. Os bilhões enterrados na “Copa das copas” surtiriam efeitos muito mais úteis se tivessem sido investidos no aprimoramento da Instrução Pública. Não dariam votos, mas dariam futuro.
Como se sabe, o fruto não costuma cair muito longe da árvore. Dirigentes incultos não conseguem senão tomar decisões ignorantes. Quando a ganância, a má-fé e o imediatismo se somam à incompetência, aí então o resultado é desastroso.
Tão cedo, não tem jeito.
