As muletas de cada um

José Horta Manzano

Tem muita gente que, pra falar, precisa de muleta. Isso não é exclusividade nossa; em outras terras ocorre fenômeno idêntico. Não sei se já foi feita alguma estatística sobre o assunto, mas acredito que “né?” seja a mais usada. Um “né?” aqui, outro ali, todos costumamos usar. Mas tem gente que não consegue terminar uma frase sem acrescentar a muletinha. Fica a impressão de que o sujeito não tem certeza de ter sido entendido, daí o “né?”.

Outros dizem “entendeu?”, muleta tamanho família, de três sílabas. Muito comum em certas regiões do país é terminar frases com “uai”, muletinha graciosa que sempre me fez lembrar um porquê inglês “why?”.

Os dois presidentes mais marcantes deste século no Brasil também pontuam suas frases, cada um a seu modo. Lula da Silva não soltava duas frases sem terminar com um “sabe?”. Já doutor Bolsonaro mostra nítida preferência pelo “talquei?”. Embora a expressão preferida de cada um deles varie (sabe x talquei), a informação é a mesma: tanto o antigo quanto o atual chefe do Executivo deixam transparecer insegurança.

Quem solta um “sabe?” está pedindo confirmação do interlocutor. O mesmo vale para quem diz “talquei?”. Ambas as muletinhas são perguntas. Quem pergunta, implicitamente espera resposta, de preferência simpática. Quem tem certeza do que está afirmando, simplesmente afirma, sem acrescentar perguntinha no final.

É interessante como a gente acaba descobrindo traços da personalidade alheia. No fundo, somos todos como o gato que se esconde mas deixa o rabo de fora.