José Horta Manzano
Você sabia?
Primeiro susto
Se alguém, na França, lhe propuser visitar uma maison troglodyte – casa troglodita, não deve o distinto leitor se assustar. Não imagine que o cicerone vá conduzi-lo a lugar não recomendável a pessoas de boa família.
A língua francesa de hoje reserva o adjetivo troglodita para construções – em geral habitáveis, mas não necessariamente – que têm a particularidade de serem escavadas no flanco de parede rochosa. É o que, na Espanha, chamam cuevas.

Ideal para os sem-teto medievais, abrigos desse tipo vêm sendo aproveitados para acolher turistas em busca de alojamento fora do corriqueiro. Quando bem ajeitadas, as casas trogloditas pode exibir charme incomum.
Na Idade Média, até castelos trogloditas foram construídos. Em vales estreitos, o aproveitamento da parede rochosa fazia ganhar espaço. Os fundos do imóvel já estavam prontos, só faltava a frente. Duro mesmo devia ser a escavação no muque.
Segundo susto
Ainda na França, se um conhecido se apresentar como personne ordinaire – pessoa ordinária, não tome isso como confissão de criminoso. No francês atual, ordinário é o contrário de extraordinário. Aplica-se a tudo o que é comum, corriqueiro, usual. Seu amigo está simplesmente afirmando que é pessoa comum, sem atributos especiais.
Se você entrar numa boulangerie e pedir um croissant, virá a pergunta obrigatória: beurre ou ordinaire? – de manteiga ou comum? Encomende o que lhe apetecer. No entanto, gordura por gordura, mais vale ficar com o de manteiga. Já que vai engordar, que seja com mais gosto.

Terceiro susto
Le lion est le roi des animaux significa o leão é o rei dos animais. Muitos e muitos anos atrás, no tempo em que a escola brasileira dava aulas de francês, esse era um dos provérbios mais apreciados por estudantes engraçadinhos. (Falando nisso, acabo de cometer pleonasmo: todo estudante é engraçadinho por natureza.)
Como a pronúncia soa «leliôn é lerruá dezanimô», a gente costumava dizer que o leão ia urrar, desanimou. Brincadeira de criança antiga. Já faz tempo que deve ter perdido a graça.
A sizuda «Pátria Educadora», coisa séria pra valer, não tolera mais esse tipo de troça. A partir de agora, a escola se compromete a ensinar, e o aluno, a aprender.