José Horta Manzano
Dizer isto hoje parece mentira, mas houve tempos em que o PT carregava aura de ética, de sabedoria, de retidão e de credibilidade. Os mais jovens podem achar que estou delirando. Assim era, garanto.
Nos tempos benditos que antecederam o ascenso aos mais altos cargos, os dirigentes do partido da estrela solitária conseguiam discernir o bem do mal. Não acreditam? Pois assim era, garanto.
Antes de trocar a ética pela prostituição política, antes de ceder às tentações do vil metal, antes de renegar os princípios fundadores do partido, pautavam-se por um certo discernimento. Acham que não? Pois assim era, garanto.
Querem uma prova? Aqui vai. Todos ficaram sabendo que o candidato Aécio, se eleito, nomeará Armínio Fraga para segurar as rédeas da economia do País. O senhor Fraga, para quem não se lembra, é economista de alto coturno. Foi presidente do Banco Central e diretor do Banco do Brasil. Lecionou em universidades americanas e brasileiras.
Quando tomaram conhecimento das intenções do senhor Aécio, dirigentes petistas botaram a boca no trombone para menosprezar a capacidade do provável futuro condutor da política econômica do País. «Caíram de pau», como se dizia, ou «foram pra cima», como se diz agora. Pois têm a memória curta, os desmiolados…
Em plena campanha presidencial de 2002, quando o Lula ainda vivia na tentativa de alçar-se ao trono do Planalto, a Folha de São Paulo publicou reportagem sobre a visão petista da economia nacional. Aqui vai um trecho:
«Integrantes do alto escalão da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva defendem a colaboração do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, em um eventual governo do PT, no mínimo como um consultor informal.
Petistas com voz ativa na campanha consultados pela Folha vêem o presidente do BC como peça importante para o período de transição e para a fase subsequente à hipotética posse de Lula.
Há quem sugira até a criação de uma espécie de “conselho” para assessorar o governo, do qual Armínio poderia constar. (…) É tido, inclusive por Lula, como técnico competente, que se preocupa mais com a economia do que com posicionamentos partidários.»
Como veem meus distintos leitores, os tempos eram outros. Hoje, por despeito ou ignorância – talvez por ambos os motivos – o partido cospe no prato que ontem cobiçou.
Para ler na íntegra o artigo da Folha de São Paulo de 10 ago 2002, clique aqui.