Delito e emenda

José Horta Manzano

Crédito: Ricardo Duarte, RBS

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A estas alturas, o Brasil inteiro já deve estar sabendo que dona Dilma cometeu uma infração de tráfego. Viajou de automóvel carregando criança no colo. Houve tempos em que era permitido, hoje não é mais. A lei exige que criança seja afivelada em cadeirinha especial. Não é questão de gostar ou não ― é assim, ponto e basta.

Aconteceu o que não tinha de acontecer: foi flagrada por um repórter. Pois é, hoje em dia está cada vez mais difícil evitar deixar rastro. O inquilino do Palácio do Planalto deveria ter isso na mente a cada instante. Já estamos acostumados a que seja displiscente com o País. Mas é surpreendente que desconsidere a segurança do próprio neto.

Crédito: Ricardo Duarte, RBS

Crédito: Ricardo Duarte, RBS

Há comportamentos que não se costumam recomendar: tomar leite com manga, comer salada de pepino à meia-noite, mergulhar numa piscina depois de uma boa feijoada. Assim mesmo, são atos conscientes que não põem em risco senão o adulto que os comete. Embora não sejam incentivados, maus-tratos infligidos a si mesmo não costumam ser proibidos por lei. Pôr em risco a integridade física de incapaz é outra coisa.

Os assessores de dona Dilma, à vista do auê que se alevantou nas redes sociais, se precipitaram a estancar a sangria. Postaram mensagens em nome da presidente com reconhecimento de erro e pedido de desculpa. Não basta. Faltam duas coisas.

Uma asneira cometida por mim ou por você, distinto leitor, não tem a mesma repercussão que a mesma besteira protagonizada pela mandatária-mor. Em primeiro lugar, falta a presidente prometer publicamente que não repetirá o erro. Para completar, falta ressarcir os cofres do Serviço de Tráfego pagando a respectiva multa. Foi-se o tempo em que a gente se safava com um «desculpe, foi sem querer».

Dilma e os tuítes em seu nome

Dilma e os tuítes em seu nome

Desconheço os preceitos nesse particular. Se houver sanção pecuniária prevista, que dona Dilma pague. Se não houver, que seja esperta e mate dois coelhos de uma cajadada só. Seus marqueteiros estão aí para isso. Basta mandar preparar um vídeo institucional bem-humorado com reconhecimento do erro e advertência a todos os brasileiros para que nunca façam a mesma coisa. Pelo bem de suas crianças.

De toda maneira, o Brasil inteiro já está a par do que aconteceu. Não há como se esconder atrás de um «eu não sabia» ou um «eu não tenho nada com isso». Há momentos propícios para tirar dividendos de um acontecimento incômodo. O caso de Porto Alegre é um deles.