José Horta Manzano
Já antes de assumir o mandato, Donald Trump tinha prometido limpar os Estados Unidos de todos os imigrantes ilegais. Muitos imaginaram que não passasse de bravata, que o sistema funcionaria em rotação contínua: cada ilegal expulso seria rapidamente substituído por novo imigrante.
No entanto, as investidas do governo contra comunidades ibero-americanas têm sido tão incisivas, que o fluxo de clandestinos rapidamente diminuiu; hoje não se ouve mais falar em “invasão” de gente morena e pobre.
Na época em que se declarou hostil a todos os imigrantes pobres, Trump argumentou que eram todos assassinos, ladrões e estupradores. Quando alguém chamou sua atenção para o fato de nem todos serem fora da lei, Trump teria respondido que alguns eram, e que, ao expulsar todos, os bandidos também seriam expulsos.
Algum tempo atrás, um Brasil meio constrangido ficou sabendo das estrepolias de um aventureiro, filho de brasileiros mas nascido nos EUA, que se içou ao posto de deputado federal por Nova York. George Santos é o nome do rapaz, hoje com 37 anos. Já eleito, os podres de seu passado começaram a aparecer.
No Brasil, mentiras, declarações falsas e malversações com dinheiro de campanha eleitoral podem parecer de menor gravidade, mas, nos EUA, são imperdoáveis. Além de perder o mandato, o moço foi julgado e ganhou uma sentença de sete anos de cadeia.
Quinze meses se tinham passado desde seu encarceramento quando Mr. Santos, espertalhão escolado, decidiu escrever carta aberta ao presidente Trump. O texto, escrito em linguagem melosa e bajuladora, pedia clemência ao chefe do Estado. Parece mimimi de brasileiro, mas, comportamento raro nos EUA, impressionou o presidente. E acabou dando certo.
Donald Trump escreveu uma mensagem na sua rede social Truth Social com o texto seguinte:
“Ele era meio pilantra, mas há muitos pilantras em todo este país que não são condenados a cumprir sete anos de prisão. Pelo menos, Santos teve a Coragem, a Convicção e a Inteligência de SEMPRE VOTAR NOS REPUBLICANOS! Na prisão, George esteve no isolamento por longos períodos e, segundo todos os relatos, foi terrivelmente maltratado. Portanto, acabei de assinar um indulto, libertando George Santos da prisão IMEDIATAMENTE. Boa sorte, George, tenha uma linda vida!”
Desta vez, Trump inverteu o raciocínio que havia utilizado com relação aos imigrantes clandestinos. Para os imigrantes, ainda que a grande maioria fosse de gente boa e bem intencionada, expulsavam-se todos, assim os bandidos iam embora também. Já no caso de George Santos, é o contrário. Já que não dá pra mandar todos os pilantras para a cadeia, solta-se o pilantra preso, pois é injusto manter um preso e deixar tantos soltos.
Raciocínio esquisito? Também acho. Mas vamos em frente, que atrás vem um montão de gente.
