Vamos fazer de conta que a COP30 é um zigue-zague. Vamos combinar as regras do jogo? Digamos que o zigue é o positivo, o que vai pra frente, são passos que seguem as regras do jogo. Já o zague é o negativo, o que vai pra trás, são decisões que contrariam as regras e fazem o jogo fracassar.
Quinta e sexta, nos preliminares da COP de Belém, presenciamos muito oba oba. Dirigentes do mundo todo, reis e rainhas, Macron tietado na avenida, o Príncipe de Gales, mão no coração, declarando-se encantado com o Brasil. Mas o tapete vermelho durou só dois dias. As excelências se foram e entregaram a arena aos que aqui vieram para o trabalho de salvar a vida no planeta da autoextinção que se aproxima.
Zigue
Foi num arroubo, provavelmente irrefletido, que o presidente Lula propôs que a COP30, atribuída ao Brasil, se realizasse em Belém. Segundo ele, o propósito desse tipo de reunião combinava com um ambiente amazônico.
Zague
No entanto, ao propor Belém, Lula deu mostra de que, como muitos conterrâneos, não se dá plenamente conta da utilidade de um congresso desse tipo. Ele parece imaginar que ali se discute unicamente a preservação da floresta equatorial e mais nada. No entanto, o tema é bem mais amplo. O abandono da utilização de combustível de origem fóssil é tão premente quanto o fim do desmate.
Problema colateral não previsto por Lula ao designar Belém: a cidade não está capacitada a abrigar tantos hóspedes estrangeiros ao mesmo tempo. Falta infraestrutura decente, falta alojamento, faltam restaurantes, falta quem pelo menos balbucie inglês. Simpatia é bom, mas não basta.
Zigue
O Brasil tem mostrado aplicação no sentido de que o saldo desse congresso seja positivo e resulte em avanço real da causa. É sempre importante que o anfitrião abrace o tema que estará sendo debatido.
Zague
Continua um mistério o fato de os barões do agronegócio brasileiro não estarem implicados na luta contra as mudanças climáticas. Eles estão entre os maiores interessados. Tanto na agricultura quanto na pecuária, o regime de chuvas é essencial. Sem precipitações regulares, que caiam na temporada certa e em quantidade razoável, não é possível obter boa colheita nem criar gado saudável. Sabendo-se que o gradual desaparecimento da floresta amazônica já está modificando o clima brasileiro, com longas secas e enchentes catastróficas, cruzar os braços para o clima e divertir-se num rodeio é suicídio programado.
Zigue
Bom de bico que sempre foi, o presidente Lula tem feito belíssimos discursos, que incluem até ousados beliscões em Donald Trump.
Zague
A escutar nosso presidente, ninguém diria que ele não vê a hora de fazer os primeiros furos de prospecção de petróleo na margem equatorial. Ele me faz lembrar o bêbado e a equilibrista, sendo que, no caso, o bêbado e o equilibrista são o mesmo personagem. É difícil exercício de equilibrismo entre a proteção do clima e a candidatura do Brasil à OPEP.
Um Zigue para resumir
Está passando da hora de os brasileiros aprenderem, desde a escola elementar, que a proteção do meio ambiente começa em casa, nos pequenos gestos do quotidiano. Plantar uma mudinha no Dia da Árvore é bonito, mas não basta. A água que escorre sem necessidade da torneira, o pão de ontem que, em vez de ser jogado fora, pode ser guardado num saco plástico e esquentado no forno ou na chapa. Há mil e um conselhos que se devem dar a todos para se conscientizarem de que a natureza não está só na distante Amazônia, mas também aqui. Somos todos parte da mesma natureza.
A natureza somos nós!

