Inferno bolivariano

José Horta Manzano

Señor Maduro, (ainda) presidente da sofrida Venezuela, está pulando na corda bamba. Sua base congressual, composta por não mais que 1/3 dos parlamentares, é amplamente minoritária. O povo passa fome. O país, que pouco ou nada exporta além de petróleo bruto, não tem mais onde encontrar dinheiro. Pra piorar, o preço do petróleo caiu muito estes últimos anos. Fator agravante é a inflação, que deve fechar este ano por volta de 800% ‒ nível que os brasileiros com menos de 30 anos não têm ideia do que possa ser.

venezuela-6Não se sabe bem por que, o governo decidiu abruptamente tirar de circulação a nota de 100 bolívares, a de maior valor e também a mais utilizada no país(*). Note-se que seu valor é de 7 centavos de dólar. Sim, a maior nota do país vale em torno de 20 centavos de real! Pra fazer compras, desde que haja o que comprar, o cidadão tem de carregar uma sacola de dinheiro. Com o banimento da maior nota, o povo ficou sem meios de pagamento. Resultado: este fim de semana, mercadões e mercadinhos foram invadidos e saqueados. O exército foi chamado a intervir.

As fronteiras rodoviárias do país estão fechadas. No oficial, a medida foi tomada para impedir a passagem de «máfias», como se mafioso costumasse atravessar fronteira de ônibus, passaporte na mão. No paralelo, a medida foi tomada para impedir o esvaziamento do país. Se bobearem, metade da população periga abandonar a terra natal, criando um problemão com os vizinhos.

Nas condições atuais, não tem mais jeito: señor Maduro tem de cair e levar consigo todos os auxiliares, assessores, milicianos e apaniguados. O sistema esgotou-se. Raspado o fundo das gavetas, não há mais de onde tirar dinheiro. Nem o lulopetismo, que poderia usar nosso dinheiro pra dar uma mão a Maduro, vai poder ajudar. Embora muitos dos bilhões roubados de nossos impostos ainda devam estar vagando por aí, os rapinadores, acuados, estão mais preocupados em guardá-los para remunerar batalhões de advogados. Ninguém está ligando para «hermanos» necessitados.

venezuela-7Saídas há, embora todas as opções sejam traumáticas. A mais suave seria que Maduro renunciasse, um governo provisório assumisse, novas eleições fossem convocadas. Maduro não se candidataria. Logo após a renúncia, se mudaria para Cuba e sairia de cena. Infelizmente, é pouco provável que as coisas caminhem assim. Ditadores, como se sabe, perdem o contacto com a realidade. Até o último minuto, acreditam que ganharão a partida. Hajam vista Hitler, Ceaușescu & congêneres.

Outra opção, tipicamente hispano-americana, é o golpe de Estado. A única instituição capaz de fazê-lo com boa chance de dar certo é o exército. Chávez tinha sido militar de formação. Maduro, que passou ao largo das casernas e fez a vida como motorista de ônibus, não inspira reverência dos militares.

Se falharem os dois primeiros caminhos, só resta um tenebroso fim: a guerra civil. É a pior das saídas. A da Espanha (anos 1930), a do Líbano (anos 1970-1980), a da antiga Iugoslávia (anos 1990) e todas as outras deixaram um rastro de desolação e de feridas abertas que, décadas depois, ainda não cicatrizaram completamente. Esperemos que os infelizes «hermanos» não tenham de seguir por essa vereda.

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(*) Talvez não tenha nada que ver, mas o súbito desaparecimento da moeda faz lembrar o que Fernando Collor fez ao assumir a presidência do Brasil. Naquela ocasião, a intenção do confisco da poupança dos brasileiros era frear a inflação. O plano fracassou rapidamente. Se não deu certo aqui, não dará ali. Espero que não seja esse o projeto do paranoico señor Maduro. Se bem que…