Quem te viu, quem te vê ‒ 3

José Horta Manzano

Saiu hoje no Diário Oficial a indicação de Cristiano Zanin para preencher a vaga aberta pela aposentadoria de Ricardo Lewandowski. Como é de conhecimento geral, Zanin é amigo pessoal do presidente Lula da Silva. Vem defendendo o atual presidente desde há muitos anos, tendo notadamente enfrentado o auge dos processos da Lava a Jato. Um amigo valioso.

O jornalista Lauro Jardim lembrou, em sua coluna n’O Globo, da declaração feita por Lula durante a campanha eleitoral de seis meses atrás. Quando de um debate na Band, o ora presidente foi veemente:

“Estou convencido que mexer na Suprema Corte para colocar amigo, para colocar companheiro, para colocar partidário é um atraso, um retrocesso que a República brasileira já conhece muito bem. Eu sou contra.”

Não diga! É contra mesmo?

O distinto está surpreso? Pois não devia. Nesse particular, Lula é reincidente. Durante seus primeiros mandatos, já tinha incorrido no mesmo pecado ao indicar para o STF seu amigo Ricardo Lewandowski.

Na época, muitos criticaram a escolha, não tanto pelo nepotismo explícito como pelo fato de o indicado não ser dono de notável saber jurídico como exige a Constituição. Passou na sabatina assim mesmo.

Zanin, o atual indicado, tampouco é personagem carregado de diplomas. Vai passar do mesmo jeito.

Afinal, estamos no Brasil, país onde a palavra de um figurão público vale menos que um bilhete corrido.

3 pensamentos sobre “Quem te viu, quem te vê ‒ 3

  1. Uma boa análise. Coaduna-se com o que falou o professor Gandra: https://www.youtube.com/watch?v=bZDKYNmH8pE
    Com Zanin, STF terá 3 ministros indicados por Lula e 7 pelos governos do PT. Como já diziam os antigos: “Mais vale ter amigos no Supremo do que dinheiro no bolso!”
    Acredito que, no Brasil, verdadeiramente já vivamos numa Cleptocracia (do grego, κλέπτης kléptēs, “ladrão”, κλέπτω kléptō, “roubar”, e -κρατία -kratía de κράτος krátos, “poder, governo”) é um governo cujos líderes corruptos (cleptocratas) usam o poder político para se apropriar da riqueza de sua nação, geralmente com o desvio ou apropriação indevida de fundos do governo às custas da população em geral.

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    • Um reparo. Onde o prezado comentarista diz acreditar que “JÁ vivamos numa cleptocracia”, eu diria que “AINDA vivemos numa cleptocracia”.

      De fato, esta sempre foi uma terra de ladrões, desde os primeiros corsários, piratas e aventureiros, passando pelo Brasil colônia, atravessando o Brasil império e aterrissando no Brasil república.

      Sempre foi assim e, por mais otimista que se queira ser, não leva jeito de melhorar tão já.

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      • Concordo. Mas a percepção que tenho é a de que hoje exista um extraordinário aparelhamento arquitetado para a proteção dos cleptocratas. Basta ver que 9 juízes da Suprema Corte foram ali colocados por petistas. Dois por Bolsonaro (André Mendonça e Nunes Marques). É assustador. Todos os presidentes eleitos neste período de pseudo”redemocratização” (com uma possível exceção de Itamar Franco), cometeram crimes envolvendo dinheiro. Todos.

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