Os arrependidos

José Horta Manzano

Pão de Açúcar 1Alguns de meus antenados leitores se lembrarão da briga de foice entre senhor Diniz, antigo proprietário da rede de varejo Pão de Açúcar e o grupo francês Casino. A peleja é antiga, mas esquentou mesmo em 2011.

Tinha ficado combinado, já fazia anos, que os franceses assumiriam o controle da rede brasileira. Na última hora, contudo, senhor Diniz mudou de ideia. Lembra um pouco aquela história do sujeito que vendeu mas não quis entregar. Naturalmente, entrou em colisão frontal com os estrangeiros. Depois de muita briga, não houve jeito. Valeu o escrito: o grupo Casino ficou com o comando do Pão de Açúcar.

Estes últimos anos, o conglomerado francês tem investido pesado não só no Brasil, mas também na América Latina, em países hermanos. Afinal, o horizonte parecia tão promissor. Foi indo, foi indo até que, depois da compra do Pão de Açúcar, a região passou a representar 45% das vendas do Casino e 94% do lucro bruto. É enorme.

Casino 1De repente, catapum! A economia do Brasil começa a descer pelo ralo. A preocupação cresce em Paris. Vendas e lucro já baixaram quase 30%, um despropósito. O recente vexame de nosso País ter sido rebaixado na avaliação dos peritos em economia da agência S&P só agrava as perspectivas. O valor da ação do Casino já caiu na bolsa de Paris. Vale hoje tão pouco quanto chegou a valer em 2009, no auge da crise dos subprimes.

Isso mostra que ludibriados não fomos só nós. Até gente graúda e, em princípio, bem informada acreditou no blá-blá-blá dos que nos governam. Ah, se arrependimento matasse…

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PS: Com informações colhidas do diário Le Progrès, de Lyon (França).

4 pensamentos sobre “Os arrependidos

  1. Com certeza lucraram muito conosco. Até nessas horas em que vemos que, apesar de toda informação, os graúdos também não conseguem saber qual o tamanho do passo pra que não seja maior que a perna, ou se tem penhasco à frente, até nessas horas, penhasco arrebenta com o mais fraco.
    Quero dizer que, com certeza, o abalo maior será sentido por seus inúmeros funcionários e colaboradores indiretos, em sua maioria, brasileiros, pelo menos no que se diz respeito ao Grupo Pão de Açúcar, gerando efeito dominó com as devidas proporções.
    Frase boba e óbvia que li por aí: Há o tempo de plantar, o tempo de colher… complemento: o tempo de jogar o bagaço fora… e é o que inúmeros investidores já estão fazendo.
    A coisa tá feia.
    Abs!

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    • Nesse confuso episódio, ficou a impressão de que o senhor Diniz prometeu e, na hora de entregar, se fingiu de morto. Só que o mundo não funciona assim. Vale o que estiver escrito. Teve de entregar a mercadoria.

      Mas, sejamos justos. Nenhum desses senhores, nem o vendedor nem o comprador, é causador do descalabro nacional que vivemos neste momento. São figurantes como você e eu. Um pouco mais influentes que nós, sem dúvida, mas sem poder suficiente para transformar a realidade.

      As cartas vêm sendo distribuídas pelos que nos governam, incluindo aí a presidência e o Congresso. São cartas envenenadas.

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      • Não pense que sou contra o capitalismo. Quando me refiro a nós como bagaço, conotando assim que nós (povo brasileiro) fomos usados, não tenho intenção nenhuma de nos colocar como vítimas. E, muito menos, dizer que os empresários que aqui investem são vilões. Mas, é fato, que um certo palestrante alargou os horizontes dos investidores, mundo afora, ao propositadamente incentivar o consumismo desenfreado. Todos ficaram felizes. Então, não há vítimas. Afinal, até o cabrobó deseirado sabe que tudo tem um preço a pagar.
        Quanto ao Diniz mudar de idéia, até compreensível né? Era o negócio da família. Mas, a quem investe interessa o acordo. Penso como você, se combinou, tem que cumprir.

        Um à parte: gosto muito de sua percepção sobre os diversos assuntos. Muitas vezes termino o texto dizendo: “é mesmo” concordando, ou ainda “que sacada”. Nem sempre tenho tempo pra acompanhar tudo o que posta, mas, sempre que possível, dou um pitaco.
        Grande abraço.

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