Sebastião Nery (*)
Siqueira Campos, chefe da conspiração de 1930 em São Paulo, chamou Oscar Pedroso Horta, redator do Estado de São Paulo. Disse-lhe:
– Preciso renovar meus códigos de comunicação com Prestes, que está em Buenos Aires, levar uns mapas para ele organizar os planos do levante e trazer de lá um aparelho de rádio mais potente. Mas não esqueça: são mapas de guerra, privativos das Forças Armadas. Você vai cometer um crime de traição à Pátria. Topa?
Pedroso Horta topou. Pegou um avião da Nirba numa praia de Santos, dormiu em Porto Alegre, continuou para Montevidéu e voou para Buenos Aires, com aquele rolo enorme de mapas debaixo do braço. Foi para o hotel. De manhã, procuraria Prestes no endereço marcado.
De repente, batem à porta do quarto. Era um homenzinho muito magro, com botinas de elástico:
– Sou o comandante Luís Carlos Prestes. O senhor não é Oscar Pedroso Horta? Trouxe uma encomenda de São Paulo para mim?
– Não o conheço. Vim a negócios. Não trouxe nada para ninguém.
O homenzinho foi-se embora. Pedroso Horta trocou logo de hotel, pegou um táxi e foi ao endereço de Prestes. Bateu à porta. Alguém abriu. Era exatamente o homenzinho muito magro: Prestes.
(*) Excertos de artigo do jornalista Sebastião Nery.