Rapidinha 7

José Horta Manzano

«Mais preocupado com a morte, brasileiro investe em auxílio funeral» ― diz o título chamativo do artigo de Yolanda Fordelone publicado no Estadão deste 1° de novembro.

Falar em morte, funeral e enterro incomoda. São coisas que a gente acredita que vão acontecer a todos, menos a nós mesmos. Vira essa boca pra lá, dá azar, não presta, para de chamar desgraça! São os comentários mais comuns quando se aborda esse assunto. E, no entanto…

… no entanto, todos sabemos que a única certeza que temos ― a única mesmo! ― é de que seremos levados embora um dia. Quanto ao resto, a gente pode querer, esperar, torcer, imaginar, mas certeza, que é bom, não temos.

Que o brasileiro atual se preocupe em tomar disposições concernentes a seu próprio funeral é excelente notícia. Não se deve ligá-la ao aumento da criminalidade, que uma coisa não tem nada que ver com a outra. Com ou sem crime, todos acabamos morrendo um dia.

A boa notícia, em meu entender, é que a preocupação com funeral e sucessão é muito positiva. Dá pelo menos duas importantes indicações.

Véu de luto

Véu de luto

1) Demonstra a tomada de consciência de que o inevitável vai acontecer, queiramos ou não. É impossível evitar. À diferença de aventureiros do passado, que acreditavam na existência da fonte da eterna juventude, vamo-nos conformando com a realidade.

2) Dá sinal claro de que o brasileiro, pouco a pouco, toma consciência de ser responsável por si mesmo. O modo de vida paternalista, imerso no qual temos vivido há centenas de anos, vai-se esgarçando. Esperamos cada vez menos dessa entidade meio nebulosa que chamamos «governo» e aceitamos o fato de que o artífice de nosso destino somos nós mesmos.

A meu ver, mormente por arranhar a ingenuidade e a credulidade tradicionais do brasileiro, essa evolução vai no bom sentido.