José Horta Manzano
De vez em quando, uma palavra rara entra no uso diário, permanece lá por algum tempo e logo acaba voltando ao lugar humilde daquelas que quase nunca são utilizadas. A Operação Lava a Jato trouxe para o centro do palco um desses termos: depor.
A palavra está atestada na língua há quase um milênio. Nos tempos de antigamente, seu uso era mais frequente que hoje. Com a passagem dos séculos, a utilização foi-se modificando.
«Depor um livro sobre a mesa», «depor o sobretudo no cabide», «depor confiança no funcionário» são frases de sabor deliciosamente arcaico. Em casos assim, depor será hoje em dia substituído por depositar, colocar, pendurar.
Depor é filhote do latim depōnĕre, onde de indicava movimento para baixo e pōnĕre chegou até nós como pôr. Depoimento, deposto, depósito, deposição, depositário são ramos do mesmo tronco.
O verbo pode ser transitivo (depor alguma coisa), pronominal (depositar-se). É raramente usado como transitivo indireto ‒ aparece em expressões como «depor de carga pesada» ou «no confessionário, depôs de pecados que o atormentavam».
Desde que surgiu a Lava a Jato, o verbo tem sido extensivamente utilizado. Não passa um dia sem que um figurão qualquer faça sua deposiçãozinha. Em jurisdiquês, o verbo é sempre intransitivo. Não é adequado dizer que fulano depôs a quem quer que seja. Fulano depôs. Ponto e basta. Em linguagem jurídica, depor equivale a ‘responder a interrogatório’.
Com muito poucas exceções, a mídia escorrega ao dizer que o Lula depôs ao juiz. Nosso guia simplesmente depôs. Não revelou nada que já não se soubesse, assim mesmo, depôs. Em Curitiba.
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