Petrolão venezuelano

José Horta Manzano

Você sabia?

Má gestão e corrupção corroeram a Petrobrás. Como hoje sabemos todos, faltou muito pouco pra ela desmoronar de vez. Foi salva na undécima hora. Por sorte, tivemos a Lava a Jato que, bem ou mal, tapou alguns buracos e, se não estancou, diminuiu a sangria. Quanto à incompetência na gestão, não há Lava a Jato que dê jeito. O único remédio seria a redução da participação do governo no capital da empresa. É só no dia em que particulares compuserem a maioria do acionariado que as coisas entrarão nos eixos.

As mesmas causas costumam produzir os mesmos efeitos. A recíproca é verdadeira: os mesmos efeitos costumam ser resultado das mesmas causas. Nossa infeliz vizinha Venezuela, que tira a quase totalidade de seu sustento da exportação de petróleo, vive em rigorosa dependência do desempenho da estatal petroleira. Quando a empresa bambeia, o país inteiro ameaça desabar. É bem pior que no Brasil.

Até alguns dias atrás, o mundo sabia que a petroleira venezuelana vinha sendo mal gerida desde que o «bolivarianismo» ascendeu ao poder. Havia rumores de corrupção, mas nenhum fato concreto havia sido divulgado. Isso mudou. O diário espanhol El País teve acesso a informações estupefacientes. Segundo a polícia do Principado de Andorra, investigações junto à Banca Privada d’Andorra ‒ um banco privado do pequeno país ‒ estão revelando um esquema de deixar qualquer corrupto brasileiro babando de inveja.

Pelo que se descobriu até o momento, calcula-se que ministros venezuelanos e testas de ferro de homens políticos tenham recebido mais de 2 bilhões de euros (8 bilhões de reais!) em comissões ilegais cobradas de companhias estrangeiras para adjudicação de contratos com a petroleira estatal.

O pagamento das propinas se fazia através de um sistema sofisticado. Um emaranhado de empresas de fachada baseadas em paraísos fiscais ‒ especialmente no Panamá ‒ mantinha 37 conjuntos de contas-correntes no banco andorrano. As contas eram abertas em nome de laranjas. O nome do beneficiário dos fundos permanecia sempre protegido pelo segredo bancário e não aparecia nos extratos.

Exatamente como a Lava a Jato revelou sobre as artes de doutor Eduardo Cunha, os gastos dos beneficiários venezuelanos eram principescos. (Como é fácil esbanjar dinheiro alheio…) Aqui estão algumas contas pagas através do banco andorrano:

● Uma única compra de 694 garrafas de vinho de primeira linha numa loja especializada de Paris. Total: 494 mil euros (dois milhões de reais).

● Gastos com aluguel de helicópteros. Total: 516 mil euros (dois milhões de reais).

● Compra de ternos sob medida. Total: 953 mil euros (3,7 milhões de reais).

● Gastos em joalherias e relojoarias. Total: 6,1 milhões de euros (24 milhões de reais).

Enquanto isso, a população passa fome e morre por falta de remédio. A procuradoria-geral venezuelana estima que a expoliação da petroleira estatal ultrapasse 3,5 bilhões de euros (quase 14 bilhões de reais). É montante pra nenhum corrupto brasileiro botar defeito.

E pensar que, não fosse a Lava a Jato e a destituição da doutora, estávamos no mesmo caminho. Apesar dos pesares, há que admitir que temos um santo forte.

Nota
Se alguém quiser conhecer mais detalhes sobre os gastos dos bondosos socialistas do século XXI, pode clicar aqui e aqui (em espanhol) ou aqui (em inglês).

Dois pra lá, dois pra cá

José Horta Manzano

Interligne vertical 11a«Lo que hoy empieza a dar miedo es que algunas fuerzas políticas, tentadas por el demonio de la perpetuación en el poder a cualquier precio, en vez de buscar soluciones para la salida de la crisis, puedan acabar dividiendo al país como sucede ya en Argentina y Venezuela, con tentaciones, como en aquellos países, de amordazar la información libre.»

«O perigo atual é que algumas forças políticas – obsessionadas pela perpetuação no poder a qualquer preço –, em vez de procurar soluções para sair da crise, acabem fraturando o país e tentando amordaçar a livre informação, tal como já acontece na Argentina e na Venezuela.»

Enquanto os brasileiros, temporariamente anestesiados, ‘pulam’ seu carnavalzinho, analistas internacionais externam preocupação quanto ao que está para acontecer logo depois que momo tiver deposto sua coroa.

Dança 2A exemplo, leia-se o interessante artigo do jornalista e escritor Juan Arias Martínez, publicado em 16 fev° 2015 pelo quotidiano espanhol El País. Numa comparação entre o caráter brasileiro e o de seus vizinhos de parede, o articulista conclui que, onde outros povos latino-americanos costumam se dividir em blocos fratricidas, o brasileiro sempre se mostrou unido na adversidade.

Cita o movimento das Diretas Já e as Manifestações de Junho 2013. Ressalta que, na hora do aperto, os brasileiros costumam se agregar em torno de uma só ideia, diferentemente de seus vizinhos. Venezuelanos, argentinos e outros hermanos tendem a se fragmentar em blocos antagônicos.

Manif 13As lentes do analista espanhol temem que o vírus da desagregação social nos esteja contaminando. Cita o crescente clamor pela destituição da presidente, contrabalançado por resistência feroz de grupos que apoiam a mandatária – aqueles que línguas venenosas qualificam como «militância paga».

Do ‘nossas roupas comuns dependuradas’ estamos passando para o ‘dois pra lá, dois pra cá’. Da luta pelo bem comum, vamos lentamente escorregando para o encorajamento a erradicar aqueles que não pensam como nós.

Manif 14Arias menciona a Petrobrás, o juiz Moro, a operação Lava a Jato, a pesquisa Datafolha, a Constituição. Lembra também que manifestações de âmbito nacional estão convocadas para 15 de março. Diz que é difícil saber que «eco popular» poderão ter as passeatas.

Também, pudera. Num país onde se vai dormir sem saber se no dia seguinte a lei não terá mudado, nem bola de cristal ajuda a adivinhar o futuro. Quem viver verá.

Que clique aqui quem quiser ler o artigo na íntegra.