São Valentim

José Horta Manzano

Você sabia?

Em muitos lugares do mundo, no dia 14 de fevereiro se festeja São Valentim, o patrono dos namorados. Que caia numa segunda-feira, numa quinta, num domingo, ou em qualquer outro dia da semana, é festa fixa, será comemorada sempre naquele mesmo dia.

Os franceses e outros europeus não apreciam muito que se diga, mas, segundo vários pesquisadores, a festa de São Valentim é de origem inglesa. Poderia ser alemã, russa ou chinesa, mas parece que é britânica mesmo, desde a Idade Média, que é que se há de fazer?

Alguns autores consideram que o «Valentine‘s day» é o que os romanos chamavam Lupercale, festival dedicado a Lupercus, deus da fertilidade. A demonstração cabal não foi feita, mas faz sentido.

Como sabem todos os meus eruditos leitores, a crueza do inverno no hemisfério norte aperta justamente na virada do ano, dezembro, janeiro, fevereiro, por aí. Diferentemente do Brasil, as diferenças de temperatura e de paisagem são muito marcantes por aqui. A partir de novembro, a temperatura começa a cair, o sol se faz raro, amanhece mais tarde e anoitece bem cedo, as árvores perdem as folhas, os pássaros desaparecem, um lençol branco de neve recobre frequentemente a terra.

Hoje em dia ― é coisa recente, de algumas dezenas de anos para cá ― temos casas aquecidas, máquinas para tirar a neve dos caminhos e das estradas, até rampas de saída de garagem com aquecimento no chão para evitar a formação de gelo. Luxos inimagináveis até há bem pouco tempo. Já houve até quem dissesse que a luz elétrica revogou a noite. Um exagero, certamente. Se bem que…Coração

Reza a tradição que, em meados de fevereiro, quando os dias começam a se alongar, os passarinhos nidificam. Antes disso, naturalmente têm de formar pares, que nenhum pássaro constrói ninho individual. Então, começa aquela cantoria, uns piam, alguns gralham, outros cantam melodias surpreendentes. Tudo isso para seduzir uma parceira. É o que chamamos a «estação dos amores», a vida que renasce.

Faz séculos que os ingleses festejam seu Valentine’s day. No princípio, era uma festa do tipo «liberou geral». Ô, mentes sujas, não é necessariamente o que estão pensando! Era um dia em que os rapazes tímidos se sentiam liberados para declarar sua paixão pela amada. Um bilhetinho, um recado, um sorriso, qualquer um desses sinais valia declaração. Só isso.

Até 40 ou 50 anos atrás,  a festa ainda não representava oportunidade comercial na Europa. Foi a partir dos anos 60 ou 70 que os comerciantes começaram a enxergar aí uma excelente ocasião para aumentar seu movimento. Ainda estes dias ouvi uma entrevista gravada em 1962 com uma florista parisiense. O repórter perguntava se seus negócios aumentavam com a aproximação do dia 14. A resposta foi um «não» redondo ― para ela, não mudava nada.

Hoje muda. E muito. Nos dias que antecedem a festa, as vendas de flores, de chocolates, de joias, de tudo o que possa servir aos que querem declarar seu amor aumentam consideravelmente. E tem mais. Se, antigamente, a ocasião era aproveitada unicamente pelos que queriam se declarar, hoje vale também para os que querem confirmar seus sentimentos pela pessoa amada. Jovens, maduros e velhinhos trocam presentinhos. Os comerciantes aplaudem de pé.

Quanto à origem do santo, do Valentim propriamente dito, a controvérsia é inextricável. Há pelo menos sete versões diferentes. Ele teria existido, não teria existido, seria um mártir, teria morrido de morte natural, seria um eremita, seria um camponês beato. No fundo, hoje em dia, poucos estão preocupados em saber quem foi o santo que emprestou seu nome ao dia.

Não é impossível que nunca tenha existido, que seja apenas uma lenda. Valentim é descendente direto do latino valere, que também deu valor, valente e valioso. O renascer primaveril é vigoroso, vem cheio de promessas. Para quem atravessou o inverno ― frio, longo e desnudado ― tem muito valor.

Objetos e decorações em forma de coração podem não ser tão valiosos, mas são onipresentes por esta época. Aos namorados que apreciam a paz, é recomendado que, por nada deste mundo, esqueçam de comprar uma lembrancinha para a amada.