José Horta Manzano
Mês passado, reportagem do jornal O Globo informou que tinha sido lançada, com pompa e circunstância, uma campanha contra a prostituição infantil. A imprensa internacional repercutiu a notícia ― a exemplo, o jornal colombiano El Tiempo.
A campanha é focada na «Copa das copas». Tem o apoio de embaixadores do quilate do grande Juninho Pernambucano, de Kaká e de Arnaldo Cezar Coelho, antigo árbitro profissional.
Na Europa, mas não só, o Brasil é conhecido, entre outras características pouco enaltecedoras, pela permissividade da sociedade com relação à prostituição em geral e à exploração infantil em particular.
Cada voo que pousa no Recife, em Fortaleza, em Natal ou até no Rio de Janeiro traz seu lote de turistas peculiares ― escassamente interessados na beleza das praias tropicais mas vidrados nas conquistas efêmeras que a estada em nossas terras lhes promete.
Vamos raciocinar um pouco. Passaria pela cabeça de alguém fazer uma viagem aos EUA, ao Japão, à Alemanha ou à Nova Zelândia com o intuito de encontrar sexo fácil ou contacto carnal tarifado com menores de idade? A resposta é inequívoca: é evidente que não.
E por que essa gente vem ao Brasil? Porque nossas garotas são mais bonitas que alhures? Porque nossas crianças são mais sorridentes? Porque a tarifa sai mais em conta? Pode até ser, mas não é essa a razão que atrai hordas de predadores.
Vêm porque o laxismo de nossa cultura faz que fechemos um olho para essas coisas. Assim como passamos diante de uma favela sem olhar e não nos abalamos com o espetáculo abjecto de uma família alojada debaixo de um viaduto, encaramos com indiferença o destino trágico dessas crianças sem infância. Em nossas plagas, sexo com crianças é abundante, fácil de encontrar, barato e… sem perigo. O risco de ser apanhado e de ter de responder pelo crime é praticamente nulo.
Sem sombra de dúvida, a campanha merece aplauso. A pergunta que fica no ar é: por que se lhe dirigem os holofotes somente durante a «Copa das copas»? A praga que reserva destino atroz a essas crianças e lhes destrói o futuro não começou ontem nem vai desaparecer, como por encanto, depois da Copa.
A solução terá de passar por um empenho constante, paciente, de todos os dias. E terá obrigatoriamente de contar com o apoio firme e continuado das autoridades, que o problema é cabeludo.
Mas a campanha já é um começo. Oxalá não murche após o apito final de 13 de julho.