O jubileu de prata de Putin

Gianluca Mercuri (*)

Há exatos vinte e cinco anos, Vladimir Putin assumiu o poder na Rússia. Ele já havia sido presidente interino por quatro meses após a renúncia de Boris Yeltsin. Mas em 26 de março de 2000, ele venceu sua primeira eleição presidencial.

O quarto de século que se seguiu transformou a Rússia, esse imenso, maravilhoso e terrível país. Varreu as ilusões de paz da Europa, de um “fim da história” marcado pela vitória incontestável do Ocidente e uma convergência da Rússia e da China em direção aos benefícios do desenvolvimento econômico global, do comércio pacífico e de uma ordem mundial compartilhada. Isso trouxe a guerra de volta ao nosso continente, a ponto de assustar sua parte mais rica, democrática e estável. Essa parte somos nós.

Aqui está o que Putin fez em seus cinco anos no poder:

* Ele estancou brutalmente a perda de territórios da antiga URSS, com a segunda e mortal guerra na Chechênia (a primeira havia sido em 1994-96): em 10 anos, 50.000 mortos, dezenas de milhares de refugiados e a capital, Grozny, descrita em 2003 pela ONU como “a cidade mais devastada do mundo”.

* Ele tem eliminado sistematicamente todos os oponentes: o primeiro da lista foi o magnata do petróleo Mikhail Khodorkovsky, preso em 2003, antes que pudesse desafiar o chefe. Em 2006, o assassinato da jornalista Anna Politkovskaya e do ex-oficial de inteligência Aleksandr Litvinenko. Em 2015, o assassinato do rival Boris Nemtsov e, em 2024, a morte de Aleksej Navalny numa prisão na Sibéria. Esses são apenas os nomes mais conhecidos; milhares foram parar na prisão.

* Ao agarrar-se ao Kremlin, ele rasgou a primeira constituição democrática da história da Rússia. Reeleito em 2004, não pôde concorrer novamente em 2008, mas fez com que o leal Dmitri Medvedev fosse eleito presidente; assumiu então o lugar de premiê. Em seguida, aboliu o limite de dois mandatos e ampliou sua duração de quatro para seis anos. Ele é presidente novamente desde 2012 e pretende concorrer novamente em 2030, depois de ter obtido cerca de 90% dos votos no ano passado.

* Ele respondeu com guerra a todas as tentativas feitas pelos países vizinhos de se aproximarem da Europa: em 2008, atacou a Geórgia; em 2014, a Ucrânia, após o levante antirrusso na Praça Maidan. Naquele ano, conquistou a Crimeia.

* Em fevereiro de 2024, atacou novamente a Ucrânia de forma brutal, dessa vez com uma invasão em grande escala, com a qual imaginava poder submeter Kiev em poucos dias. Depois de três anos, ainda não venceu formalmente a guerra, graças à resistência dos agredidos, com a ajuda dos EUA e da Europa. Isso foi até o retorno de Donald Trump.

* Teorizou e impôs a ferro e fogo o direito da Rússia de impedir escolhas autônomas por parte de seus vizinhos, com base no pressuposto de que a europeização deles seria uma ameaça à sua segurança.

* Ele ressuscitou o mito da “Terceira Roma de Moscou”, já cultivado por Ivan III, o Grande, no século XV: isso significa que a Rússia se autoproclama madrinha do cristianismo e dos valores tradicionais, ainda mais diante da “decadência” do Ocidente, que, nessa visão, seria devida à contaminação da sociedade por valores seculares e progressistas. Seu conservadorismo social e autoritarismo político fizeram dele o ídolo dos direitistas do mundo.

Hoje, Vladimir Putin está comemorando seu jubileur de prata no poder com uma trégua no conflito ucraniano acertada com os americanos, limitada à infraestrutura de energia e ao Mar Negro, e que, portanto, parece beneficiar principalmente o país agressor.

(*) Gianluca Mercuri é jornalista. Este artigo foi publicado no jornal Corriere della Sera.

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