
Discurso de J.D. Vance, vice-presidente dos Estados Unidos
Cúpula de Ação sobre a Inteligência Artifical. Paris 10 & 11 fev° 2025
José Horta Manzano
Por iniciativa do presidente Emmanuel Macron, realizou-se em Paris nos dias 10 e 11 de fevereiro uma Cúpula de Ação sobre a Inteligência Artificial. Especialista em bem receber seus convidados, a França soube dar ares de pompa ao evento a fim de causar boa impressão. O majestoso Grand Palais foi escolhido para abrigar os debates.
Entre outros participantes importantes, estavam o primeiro-ministro da Índia, o vice-primeiro ministro da China, o primeiro-ministro do Canadá. O Brasil mandou Mauro Vieira, nosso chanceler.
Já os Estados Unidos não deixaram por menos: mandaram o vice-presidente do país, ou seja, o número 2 do Executivo. Trata-se de James D. Vance, eleito na chapa de Donald Trump.
Antigo militar de profissão, Mr. Vance é um homem de apenas 40 anos e já tem no currículo alguns anos de carreira política. Ideologicamente, é considerado ainda mais radical que o chefe, defensor daquela imagem ideal dos EUA sonhada por Walt Disney: com habitantes brancos, ricos, sorridentes e felizes.
Na segunda-feira 10, Macron ofereceu um jantar de gala, realizado sem a presença de câmeras e holofotes. Com ou sem jornalistas, fatos interessantes sempre chegam a vazar para o exterior do salão.
Numa atitude talvez ensaiada de véspera, Mr. Vance levantou-se e deixou a sala assim que o representante da China começou a discursar. Em matéria de descortesia e afronta, nem nosso pranteado Bolsonaro faria melhor. Vê-se que Mr. Vance é herdeiro direto do espírito dos caubóis trombudos, revólver à cinta e espora no tornozelo. Vai encarar?
Terça-feira 10, no salão de eventos, de novo Mr. Vance subiu ao púlpito. Antes de iniciar o discurso, lançou um olhar ao presidente Macron e agradeceu pela acolhida e pelo vinho da véspera. (É de acreditar que o míster não esteja habituado a ver outra bebida à sua frente que não seja aquele líquido amarronzado que espuma e parece vinho mas não é.)
Daí pra frente, despejou tudo o que levava no bolso. Expôs sua ideia de IA. Pleiteou uma tecnologia solta, sem filtro, totalmente livre de controles e de entraves (como um potro desbocado que ninguém pode deter). Disse que todo controle seria prejudicial ao desenvolvimento da técnica. Era o exato contrário do que grande parte dos demais participantes queria ouvir. Afinal, o objetivo da cúpula era justamente encontrar um acordo supranacional para impor regras e limites à IA.
Desnecessário será dizer que os EUA não assinaram a declaração final. Em consequência, o desenvolvimento da IA permanece sem regras mundiais, comuns, claras e firmes.