Monte Branco

José Horta Manzano

Todos os dias, faça o tempo que fizer, o Serviço Nacional de Meteorologia da Suíça manda aos ares sondas meteorológicas. São balões cativos (presos à terra), soltos a partir de um aeroporto militar, que sobem por ação de um gás mais leve que o ar (hélio ou hidrogênio). A função deles é medir pressão, umidade, temperatura, vento e outros parâmetros meteorológicos. Essa rotina teve início em 1954, há quase 70 anos, e continua sendo metodicamente cumprida duas vezes por dia.

Para os não-iniciados, o isoterma do zero grau pode não ter significado preciso. Vamos lá. Sabe-se que a temperatura da atmosfera diminui à medida que se sobe. A velocidade desse resfriamento varia entre meio grau e um grau (centígrado) a cada 100 metros de subida. Se o tempo estiver mais seco, a diminuição de temperatura é mais rápida. Se estiver mais úmido, será preciso subir até 200 metros para perder um grau.

Uma marca importante para os meteorologistas é o isoterma do zero grau, ou seja, a que altitude a temperatura do ar encosta no zero grau. Na Suíça, esse ponto costuma se situar numa altitude de 2000m – 3000m no inverno e de 3000m – 4500m no verão.

Se faltasse uma prova do rápido aquecimento global, aqui está ela: o isoterma do zero grau está situado cada vez mais alto. Se, dez ou vinte anos atrás, nos dias muito quentes, bastava subir 4500m para o termômetro bater no zero, agora precisa subir mais.

Na noite de domingo para segunda-feira última (21 de agosto), foi batido o recorde de altitude do isoterma do zero grau. A sonda o encontrou a exatos 5.298 metros, numa altitude mais elevada que o Monte Branco, o pico culminante dos Alpes! Nunca antes essa marca havia sido registrada.

Só para entender o que se passa, imagine que o isoterma se fixasse nessa altura. O resultado seria que, em pouco tempo, os Alpes inteiros (incluindo o Monte Branco) perderiam seu manto de neves eternas. E o nome do pico (Branco) não faria mais sentido.

A coisa é muito séria e o fenômeno se precipita. O aquecimento que se esperava para o ano 2050 está acontecendo agora. Dá pena pensar no apuro das novas gerações, que vão viver num planeta bem mais problemático do que aquele que conhecemos.

Enquanto isso, um Luiz Inácio mais preocupado com a promoção pessoal que com os brasileirinhos do futuro continua firme na intenção de furar poços de petróleo. Na Amazônia, ainda por cima.

Valha-nos, São Benedito!

2 pensamentos sobre “Monte Branco

  1. Tinha estranhado muito a palavra umidade escrita com “h”. Fui ao dicionário para saber se estava correta e, como eu já pressentia, descobri que em Portugal a forma preferida é mesmo “humidade”, enquanto nós privilegiamos “umidade”. Como você já corrigiu, fica a dica.

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    • Pois é, o que me estranha é ver essa palavra escrita sem o agá.

      O original latino costuma ser grafado ‘humus’, forma adotada pelas muitas línguas que conservam essa palavra. Em nossa língua, também temos ‘húmus’ e a variante ‘humo’, usadas em contextos específicos.

      Umidade descende de ‘humus’ (= terra vegetal, os primeiros 50 centímetros de terra). Inumar e exumar (que nossas avós escreviam ‘inhumar’ e ‘exhumar’) são também filhotes de ‘humus’.

      Hesito a cada vez que me aparece a palavra ‘umidade’. Com agá ou sem?

      Outra palavra com problema semelhante é ‘erva’. O original latino leva um agá que se perdeu pelo caminho. Para confundir, o termo ‘herbanário’ (com agá) é sinônimo perfeito de ‘ervanaria’ (sem agá).

      E durma-se com um barulho desses.

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