José Horta Manzano
Acabo de ler que um certo senhor Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil, foi preso hoje na mais recente dobra da Operação Lava a Jato. O homem, que também já foi presidente da Petrobrás, é acusado de ter cometido malfeitos. Há de ter sido contaminado pelo vírus que infesta a maltratada estatal, bactéria que já atingiu outros altos dirigentes.
Locutores de rádio têm chamado o figurão de Bendine, com acento no di. Estão enganados. No original italiano, a palavra é proparoxítona, com acento no Ben. Fica Bêndine.
Cada língua tem seu espírito. O italiano privilegia proparoxítonas. Nessa língua, palavras com o acento na terceira sílaba a contar do fim são muito mais numerosas que em português. Certas formas verbais chegam a ser biesdrúxulas, ou seja, acentuadas na quarta sílaba de trás pra diante. Chiaccherano (tagarelam), scivolano (escorregam), regulano (regulam) são exemplos.
Em nossa língua, ocorrências assim são raríssimas. De toda maneira, nossa engessada norma culta simplesmente veta a formação de palavras biesdrúxulas.
Se, num arroubo poético, o distinto leitor decidir pluralizar a palavra Júpiter, não poderá dizer Júpiteres, ainda que lhe pareça natural. Será obrigado a deslocar o acento tônico desembocando num bizarro Jupíteres, com acento no pi, formação que, a meu ver, descaracteriza o vocábulo.
Que fazer? É a velha história: quem pode manda; quem tem juízo obedece.