Inimigo de meu inimigo é meu amigo

José Horta Manzano

Chamada da Folha de SP, 23 jul° 2015

Chamada da Folha de SP, 23 jul° 2015

«Lula busca FHC pra discutir criseA manchete da Folha parece dar recado definitivo: o Lula desce do pedestal e se curva a aconselhar-se com o antecessor, justamente aquele que lhe deixou «herança maldita».

A interpretação da notícia pode não ser tão simples. Em política, meandros são difíceis de navegar, frases são difíceis de descodificar.

Dos a dos 1Pode ter sido balão de ensaio, vazamento intencional lançado para verificar como estão os ventos. Nesta hipótese, o Lula estaria testando a reação popular em face de eventual aproximação com o antecessor.

Pode ter sido vazamento não controlado. Mensageiros e intermediários nem sempre conseguem guardar segredo sobre a missão que se lhes confiou. Neste caso, o desmentido acanhado do escritório político do Lula faz sentido.

Pode ter sido recado dirigido ao próprio FHC na intenção de testar se as marteladas que recebeu do PT durante todos estes anos não fecharam definitivamente as portas a todo achegamento.

Pode ser a prova de que o Partido dos Trabalhadores já deu por perdida a aliança com o PMDB. Neste caso, estaria sondando a receptividade do PSDB para um apaziguamento.

Dos a dos 2Pode haver outras explicações. Uma coisa é certa, porém: ao fim e ao cabo, fica comprovado velho ditado tupiniquim segundo o qual “mais alto é o coqueiro, maior é o tombo”. Quem previsse, sete ou oito meses atrás, que o Lula um dia buscaria apoio de FHC seria tomado por maluco. No entanto, taí o tombo, quem diria…

Pensando bem, seria muito engraçado – não sorria, que não é impossível – se PSDB e PT se coligassem para enfrentar o PMDB, adversário comum. Em política, especialmente no Brasil, pode-se esperar de tudo.

Dê-me sua opinião. Evite palavras ofensivas. A melhor maneira de mostrar desprezo é calar-se e virar a página.