Reflexões – 1

José Horta Manzano

A prestação de solidariedade que Bolsonaro fez à Rússia não me sai da cabeça. Ao fazer a jura de submissão diante de Putin, ele esboçou uma reverência, daquelas que se costumam reservar para a rainha da Inglaterra.

Porque que razão ele pronunciou a frase da “solidariedade”, visivelmente ensaiada? Vamos ver.

Putin é o modelo ideal no projeto que o capitão rumina para si. Para Bolsonaro versão 2022, Trump é o passado; o presente se chama Putin. O dirigente russo é a norma, a referência de tudo o que o capitão gostaria de ser. E de ter!

O ditador russo reina sozinho. Os outros poderes são marionetes, todos controlados por ele. O Legislativo vota as leis que Putin determinar. O Judiciário põe na cadeia quem Putin mandar.

A imprensa livre desapareceu. A Nôvaia Gaziêta, último jornal livre, fechou algumas semanas atrás. Adversários políticos e oponentes ao regime desapareceram: ou foram envenenados ou estão passando alguns anos num simpático campo de reeducação na Sibéria.

A tevê aberta é toda estatal e só conta ao povão a verdade putiniana. Um cidadão brasileiro comum está mais bem informado sobre o que ocorre na Ucrânia do que um cidadão russo comum.

É com esse paraíso que o capitão sonha: ter o poder absoluto, como Putin. E também possuir bilhões de dólares, evidentemente. Igualzinho ao autocrata russo.

Mas nossa realidade tupiniquim é diferente. Na minha opinião, a probabilidade de o capitão realizar seu sonho está próxima de zero. Nem mesmo se, por desgraça, fosse reeleito.

Não é angelismo da minha parte. É que nosso andar de cima é amebóide, uma enguia escorregosa que ninguém consegue apreender. Na minha concepção de “andar de cima”, ponho todos: parlamentares, magistrados, militares de alta patente e civis de alta estatura. Todos estão de olho no dinheiro, sim, mas o instinto de sobrevivência fala mais alto. Todos sabem que, com um Bolsonaro ditador, correriam perigo de ir parar atrás das grades.

O capitão pode (e ainda vai) causar estragos enormes ao país, mas não conseguirá implantar sua sonhada ditadura. Bolsonaro é um saco vazio, sem estofo. Sem ajuda, não pára em pé. Só está lá até hoje porque está sendo escorado.

3 pensamentos sobre “Reflexões – 1

  1. Tenho feito as mesmas reflexões e cheguei às mesmas conclusões. Que ele vai tentar (antes, durante e após as eleições), não há dúvida, mas não vai conseguir se sustentar no absolutismo nem por um mês. Guerra civil internamente e absoluta falta de apoio internacional (quem ousaria? Putin?) são nossas garantias.

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    • Tem toda razão. Atrás da estupefação planetária, viriam as sanções. A pressão interna aliada à pressão externa dariam cabo da aventura em três tempos. Havíamos de ver ex-presidente e generais atrás das grades. Ia ser bonito.

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    • A frota da Aeroflot, a estatal russa de aviação civil, é composta de 187 aeronaves. Dessas, 10 são de fabricação russa. Os demais aparelhos são Airbus (europeus) e Boeings (americanos). Com o embargo, a companhia não receberá mais nem uma peça sobressalente. Imagine como vai ficar. Vão começar fagocitando um avião aqui, outro ali, como vez a Vasp nos tempos de agonia. Mas toda agonia termina um dia. E a da Aeroflot não vai ser bonita de assistir.

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