Portunhol ‒ 2

Quando yo me fui das casa

Fabián Severo (*)

Cuando yo me fui das casa
mi madre me deu uma caya de zapato
llena de rollo de foto.
‘Algún día Fabi, tu vai podé revelá esas foto
de cuando tu y teus irmaum era piqueno.’

Cuando pudíamos festeyá algún cumpliano
yo consiguía la máquina con doña Selia.
Solo se pudía sacar doce foto
sempre del cumplañero
atrás del bolo con los invitado.
Nunca pudemo revelá. Nou había plata.

Ainda tengo la caya guardada nel ropero.
Teño las palabra, faltan las imagen.

Quando eu fui embora de casa

Fabián Severo (*)

Quando eu fui embora de casa
minha mãe me deu uma caixa de sapato
cheia de rolos de fotos.
‘Algum dia, Fabi, você vai poder revelar estas fotos
de quando você e seus irmãos eram pequenos.’

Quando podíamos festejar algum aniversário
eu conseguia a máquina com dona Célia.
Só se podiam tirar doze fotos
sempre do aniversariante
atrás do bolo com os convidados.
Nunca pudemos revelar. Não havia dinheiro.

Ainda tenho a caixa guardada no guarda-roupa.
Tenho as palavras, faltam as imagens.

(*) Fabián Severo (1981-) é escritor e poeta uruguaio, nascido em Artigas, cidade encostada no Rio Grande do Sul, às margens do Quaraí. Grande parte da obra deste autor está escrita em portunhol, um concentrado dos falares ibéricos em que se exprimem os viventes da fronteira. É uma língua que, ainda que soe estrangeira, toca a sensibilidade do leitor. A tradução, descompromissada, é deste blogueiro. Para escutar o poema declamado pelo autor, clique aqui.

 

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