José Horta Manzano
A foto publicada por The New York Times mostra o jantar oferecido por Donald Trump a doutor Bolsonaro. A refeição não foi servida numa residência oficial da presidência, mas numa propriedade pessoal do presidente dos EUA. Pode ser que a intenção tenha sido instalar clima de maior cordialidade. Também pode ser que Mr. Trump, como todos os que enricaram muito rápido, tenha feito questão de reafirmar sua sólida riqueza e exibir sua suntuosa propriedade, situada numa restinga de Palm Beach.
A foto foi batida antes de o jantar ser servido. Alguns detalhes surpreendem este blogueiro que, na longínqua juventude, trabalhou em hotéis de esplêndida categoria.
É verdade que a perspectiva distorce a imagem; assim mesmo, noto que o vaso de flores e a dobra da toalha não coincidem. Das duas uma: ou o vaso está descentrado, ou a toalha foi mal colocada. Ambas as possibilidades depõem contra o excelso anfitrião.
Outro ponto me chama a atenção; em restaurantes de alta categoria, a toalha é passada a ferro diretamente em cima da mesa – justamente pra evitar dobras e amarfanhados que possam enfeiar o conjunto. Vê-se que os integrantes da governança da propriedade de Mr. Trump faltaram a essa aula.
O número de convivas é simbólico: são 12 ao redor da mesa. Em posição de Deus-Pai, o presidente americano sobressai. O conjunto evoca vagamente uma Santa Ceia com um personagem a menos. Só não fica claro qual dos apóstolos está faltando. Note-se, à esquerda, quase caindo da foto, um doutor Bolsonarinho – aquele que é deputado – pasmado diante da sabedoria que emana do dono da casa.
As demais mesinhas redondas que aparecem ao fundo destoam. Por lembrar prosaica festa caipira, elas atrapalham a alteza da cena. Esclareça-se que os dois personagens postados atrás dos presidentes não são apóstolos. São funcionários intérpretes, cada um a serviço do respectivo governo. Doutor Bolsonaro, que passou a vida preso à dura labuta de sete mandatos consecutivos de deputado federal, não teve tempo de aprender inglês, a língua das comunicações internacionais. Continua monoglota. Ou monolíngue, que soa mais chique.
Uma última observação. Comentaristas políticos se perguntam todos os dias quando é que Bolsonaro vai aprender isto ou aquilo. A foto dá uma pista. Reparem que, durante o solene discurso do anfitrião, todos se mantêm empertigados, em posição de respeito. Todos? Não. Doutor Bolsonaro, que não prestou atenção na postura dos demais, continua dentro de sua bolha estreita e aparece debruçado sobre a mesa, como se em casa estivesse.
Conclusão: quem não costuma observar o mundo a seu redor dá mostra de não ter capacidade de aprender. Assim sendo, está condenado a carregar suas lacunas até o fim.
Curioso notar que a mais recente gíria por estas plagas é exatamente a expressão “jantar” (alguém). Significa que a pessoa venceu uma discussão, aniquilou o oponente ou conseguiu provar seu ponto de vista não dando vez nem voz para o adversário. No caso em questão, parece que as circunstâncias sociais jantaram Bolsonaro sem dó nem piedade.
CurtirCurtir
Os dois presidentes que mais terão marcado estas duas primeiras décadas do século no Brasil são, longe de toda dúvida, Lula da Silva e Jair Bolsonaro.
É curioso notar que a fala de ambos tem pontos em comum. O mais evidente é o tom de quem ‘gospe pro santo’ antes (ou depois) de tomar um gole.
Sem se dar conta, doutor Bolsonaro segue aa melhor tradição lulista: sua conversa é de botequim. Ele e Mr. Trump foram feitos um para o outro. Canibalismo anda fora de moda, mas, se os dois se ‘jantassem’ mutuamente, o céu se desanuviaria.
CurtirCurtir
Republicou isso em REBLOGADOR.
CurtirCurtir