José Horta Manzano
Mensalão, Lava a Jato, Petrolão, impeachment, é golpe, não é golpe, é traição, não é, é salvação da pátria, voto por minha mãezinha, voto por meu neto que está por nascer, voto pelo bom povo de minha querida cidade, prefiro uma suíte de hotel de luxo, prefiro um sítio em Atibaia, prefiro um pedalinho de lata… Ufa!
Se o distinto leitor está ‒ como eu ‒ exausto de ler, todos os dias, notícias que nada mais são que variações sobre o mesmo tema, tenho uma solução. Dá um pouco de trabalho, mas resolve.
Primeiro, dedique-se, corpo e alma, ao estudo da língua islandesa. Não é fácil, mas também não é nenhum bicho de sete cabeças como chinês ou vietnamita. Uma vez adquirido razoável controle da língua, abandone a mídia brasileira. Essa é a parte mais agradável: é como jogar mágoas na cachoeira.
A partir daí, deleite-se com a mídia islandesa. Crônica policial? Dois acidentes de circulação ocorreram ano passado, causados por motoristas distraídos em conversar ao celular. Fora isso, tudo em ordem, tudo na santa, nada escabroso, nada raivoso, nada nojento.
Aí vem o melhor de tudo: fora uma ou outra (rara) menção ao futebol, nenhuma notícia sobre o Brasil. A mais recente que encontrei foi dada mais de três meses atrás. Conta a história de um casal islandês preso em Fortaleza por se estar preparando para voltar à terra natal carregando oito quilos de cocaína na bagagem.
O artigo não deixa claro como é possível que os dois tenham sido apanhados ainda no hotel, antes de se apresentarem no aeroporto. A polícia, naturalmente, confiscou a droga, os celulares e os 50 reais que encontrou. Nenhum artigo islandês posterior informa se os estrangeiros continuam presos.
Dado que, no Brasil, esse tipo de notícia já não impressiona ninguém, vai ser difícil conhecer o fim da história. Fica como sinfonia inacabada. Cada um que use a imaginação pra dar o fim que lhe parecer mais conveniente.
Enquanto isso, temos de consolar-nos com mensalão, Lava a Jato, petrolão, impeachment, golpe e voto pelo neto que está por nascer.
Eu acabo de me inscrever num ‘crash course’ de islandês. Preciso desesperadamente não só de paz e afastamento das notícias de política, mas também de muito gelo para combater o calor infernal do nosso outono tropical.
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Voto na íntegra com a Myrthes, não aguento mais o dia a dia Brasil, também quero ir para a Islândia!
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