José Horta Manzano
Não sei se o distinto leitor terá reparado que certas palavras entram na moda. E vêm com tal força que empurram todos os sinônimos para o bueiro.
Tenho notado o uso cada dia mais sistemático do verbo defender no sentido de aconselhar, preconizar.
Andei observando a edição online de sábado 26 set° dos três maiores jornais nacionais: Estadão, Folha de São Paulo e O Globo. Não foi preciso ir além da primeira página. Encontrei oito chamadas nas quais defender poderia – com vantagem – ser substituído por verbo mais expressivo.
Há dezenas de possibilidades. Como nem todo sinônimo é perfeito, cabe ao escrivinhador decidir-se por este ou por aqueloutro na hora de compor o texto.
Entendo que o frenesi desta era de informação instantânea não deixe o tempo de refletir sobre o melhor termo.
Assim mesmo, convenhamos, quando a escolha é tão vasta, fica no ar a desagradável impressão de que o conhecimento do vocabulário continua encolhendo. Não estamos longe da indigência total.
Em alguns casos, o título chega a ser nebuloso, destinado a ser entendido apenas por iniciados. Quando se lê que “Janot defende depoimento de Lula”, o recado que chega é que o Lula já depôs, e que suas palavras – atacadas sabe-se lá por quem – estão sendo defendidas por um certo senhor Janot. Qualquer distraído periga entender assim.
Caso algum distinto leitor conheça um fazedor de manchetes, solicito-lhe a fineza de fazer chegar ao profissional esta lista – não exaustiva – de verbos que dão recado igual ou até mais nítido que o cansativo defender.
Aqui estão eles:
Preconizar, aconselhar, orientar, recomendar, sugerir, propor, indicar, alvitrar, prescrever, estimular, insinuar, pregar, solicitar, apregoar, elogiar, lembrar, requerer, exigir, instilar, postular, exaltar, pedir, louvar, aventar, enaltecer, propagandear.
São 26. Há mais.
Talvez num país em que toda expressão de opinião é um ataque, já passaram a praticar: o melhor ataque é a defesa. Nem que pra isso se ignore um pelotão de sinônimos que com certeza dariam melhor conta do recado.
Defendo que estamos em guerra.
🙂
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Estive pensando, Michèle, se esse espírito de «maria vai com as outras», tão difundido entre nós, não estaria por detrás de nossos males.
O verbo defender suplantou todos os semelhantes. Só dá ele. Alguém lançou a ideia, e foram todos atrás. Essa tendência a se juntar ao rebanho pode explicar a popularidade de que gozou nosso guia. No princípio, era um grupinho, e o grupinho se tornou multidão.
Toda moda é passageira. Surge, sobe até o apogeu, em seguida declina. Assim aconteceu com o antigo mandatário. O uso do verbo defender como pau pra toda obra seguirá o mesmo caminho.
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Brincadeira à parte, fiquei calculando as marias.
Sim! Padecemos do grande mal de “maria vai com as outras”. O modo “automático” substituiu o modo “homem pensante”. Mas, substituiu de tal forma, que até os jornalistas, responsáveis por levar a informação principalmente pela escrita e fala, têm feito isso de forma superficial e irrelevante. Automática.
E por consequência, as marias “pobres de espírito”, reproduzem o que mal lêem, sem sequer sentir gastura.
Pelo apreço à informação e por dar valor à nossa rica língua portuguesa, que bem usada, consegue em nossas mentes desenhar com riqueza de detalhes a informação, é que eu hoje, dou preferência aos que tem opinião, sejam eles jornalistas e/ou comentaristas.
Os que tem opinião, ilustram a informação, e, eu, posso maquinar, discordar, concordar ou apenas me divertir com suas expressões faciais e/ou linguísticas. Estes se tornaram diamantes em meio à esta seara de “maria vai com as outras”. Muitos sumiram das telas e timidamente colaboram colunas de revistas e blogs.
Três deles que, quando os canais permitem sua presença, são ousados e se utilizam de inúmeras figuras de linguagem, substantivos, adjetivos e opinião:
Luis Carlos Prates: https://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Carlos_Prates
Nêumanne Pinto: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_N%C3%AAumanne_Pinto
Leandro Karnal (Convidado que comenta no Jornal da Cultura TV): https://pt.wikipedia.org/wiki/Leandro_Karnal
Mas, estamos vendo uma enxurrada de jornalistas, que tem a função de dar a notícia/informação, mas, não pensam sequer no efeito dos títulos das notícias. Querem nos surpreender pela mesmice? Ou estão sendo as imparciais: maria vai com as outras.
Não quero ser maria.
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Michèle,
José Nêumanne Pinto faz comentário político de alguns minutos, todos os dias, no Jornal da Manhã da Rádio Jovem Pan. O programa é retransmitido por centenas de emissoras regionais.
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Sim, citei os três que mais gosto. Os três estão ativos e claro, temos outros ativos, não em abundância.
Dos três, o Nêumanne é o mais notório. O que quis dizer é com o “quando permitem” é que, quando não permitem, estes somem dos meios de comunicação, sem explicação. E, não são poucos os sumidos.
Abraços José Horta Manzano.
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‘Defender’ é o novo a nível de
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